Visões: Textos de Sri Aurobindo e da Mãe

   A coisa vista ou experimentada pode ser fundamentalmente a mesma, mas ela é formulada diferentemente de acordo com a diferença de constituição da mente receptora. Somente aqueles que podem ir além da crença, da fé religiosa, dos mitos e das tradições são capazes de dizer do que realmente se trata; mas estes são poucos, muito poucos. Você deve estar livre de toda construção mental, deve se despojar de tudo que é meramente local ou temporal, antes que possa compreender o que viu.

   Quando uma pessoa vê, ela projeta as formas de sua mente. Você dá, para aquilo que vê, a forma daquilo que espera ver.
Mãe

   Este poder da visão é às vezes inato e habitual, mesmo sem nenhum esforço de desenvolvimento, outras vezes, ele desperta por si mesmo e torna-se abundante ou necessita apenas de um pouco de prática para desenvolver-se; isto não é necessariamente um sinal de progresso espiritual, mas geralmente quando, pela prática do yoga, a pessoa começa a dirigir-se para o interior ou a viver no interior, o poder da visão sutil desperta num grau maior ou menor; isto porém nem sempre acontece com facilidade, especialmente se ela está habituada a viver muito no intelecto ou numa consciência vital externa.

   É por meio da aspiração, através de uma crescente abertura, que essas visões e percepções começam a surgir – a realização vem posteriormente.

   Não é preciso fazer nada para desenvolver as imagens percebidas na visão. Elas se desenvolvem por si mesmas pela crescente prática da visão – o que era indistinto se torna claro, o que era incompleto se torna completo.

   A maior parte das pessoas, se quiser, pode desenvolver a faculdade da visão suprafísica com um pouco de concentração e treinamento. Quando alguém inicia o Yoga, este poder é, geralmente (embora não invariavelmente – pois alguns o acham difícil), um dos primeiros a emergir de sua condição latente e se manifestar, mais freqüentemente sem nenhum esforço, intenção ou conhecimento prévio da parte do sadhak. Ele se manifesta mais facilmente com os olhos fechados do que com os olhos abertos, mas acontece de ambos os modos.

   Mas então não é extremamente difícil ver a Mãe Divina em Sua forma inteiramente flamejante e resplandecente? Eu não creio que X ou qualquer outro tenha obtido isto à primeira vista. Isto só pode ser conseguido se a pessoa já desenvolveu a faculdade da visão nos planos ocultos. O mais importante é a clara percepção, o íntimo sentimento interior ou a percepção direta, “Esta é Ela”.  Com muitas pessoas a faculdade dessa espécie de visão oculta é a primeira a se desenvolver quando elas começam a sadhana. Com outras, ela está presente de modo natural ou surge ocasionalmente sem qualquer prática de Yoga. Mas, com as pessoas que vivem principalmente no intelecto (com poucas exceções), essa faculdade não está normalmente presente de forma inata e a maioria tem muita dificuldade para desenvolvê-la. Comigo mesmo foi assim.
Seria quase que um milagre ver coisas sem a faculdade da visão. Nós não nos ocupamos muito com milagres desse tipo.

   Isto (a visão interna) não se manifesta tão facilmente em intelectuais como acontece com pessoas que possuem um grande poder vital ou uma vida emocional e de imaginação criadora.

   Nesse estágio inicial da sadhana a maioria das coisas vistas são formações do plano mental e nem sempre é possível atribuir-lhes um significado preciso, pois elas dependem da mente individual do sadhak. Num estágio mais avançado, o poder da visão se torna importante para a sadhana, mas a princípio a pessoa deve seguir em frente sem dar excessiva importância aos detalhes – até que a consciência se desenvolva mais. A abertura da consciência para a Luz, a Verdade e a Presença Divina é sempre a coisa mais importante no yoga.

   As visões procedem de todos os planos e são de todos os tipos e possuem diferentes valores. Algumas são de grande valor e importância, outras constituem um jogo da mente ou do vital e são boas apenas para seu propósito especial e particular, outras são formações do plano mental e vital, das quais algumas podem ser verdadeiras ao passo que outras são falsas e enganadoras; ou elas podem ser uma espécie de representação artística daquele plano.

   As visões não vêm do plano espiritual – elas procedem dos planos físico sutil, vital, mental, psíquico ou dos planos que se acham acima da mente. O que vem do plano espiritual são experiências do Divino, ou seja, a experiência do Si em toda parte, do Divino em tudo, etc.

   Existe toda uma gama ou muitas e inexauríveis gamas de fenômenos sensoriais além do físico externo, dos quais uma pessoa pode se tornar consciente, ver, ouvir, sentir, cheirar, tocar, contactar mentalmente, seja em transe ou no sono, ou num estado interior erroneamente confundido com o sono ou, simples e facilmente, no estado de vigília. Esta faculdade de perceber coisas suprafísicas internamente ou exteriorizando-as, por assim dizer, de modo que se tornem visíveis, audíveis, sensíveis para a visão externa, para o ouvido, e mesmo para o toque, assim como os objetos físicos palpáveis, este poder ou dom não é uma aberração ou uma anormalidade; é uma faculdade universal presente em todos os seres humanos, mas latente na maioria, em alguns rara ou intermitentemente ativa, ocorrendo em outros como que por acidente, ou normalmente ativa ou freqüente nuns poucos.

   Desenvolva o poder, obtenha uma experiência cada vez maior, desenvolva a consciência por meio da qual estas coisas se manifestam; à medida que a consciência se desenvolva, você começará a entender e a obter a intuição do significado. Ou, se quiser a sua ciência também, então aprenda e aplique a ciência oculta, que é a única que pode lidar com os fenômenos suprafísicos.

   Além da visão física externa que vê os objetos externos, existe em nós uma visão interior que pode ver coisas ainda invisíveis e desconhecidas, coisas à distância, coisas pertencentes a outro lugar, a outro tempo ou a outros mundos.... É o trabalho da força da Mãe que a está abrindo.... Mantenha a lembrança constante da Mãe, chame por ela e aspire por sentir sua presença e seu poder agindo em você....

   A visão freqüente de luzes... é normalmente um sinal de que o vidente não está limitado por sua consciência externa superficial ou de vigília, mas possui uma capacidade latente (que pode ser aperfeiçoada por meio do treinamento e da prática) para penetrar nas experiências da consciência interior, da qual a maioria das pessoas é inconsciente, mas que se abre com a prática do yoga. Por meio dessa abertura a pessoa se torna consciente de planos sutis de experiência e de mundos de existência além do mundo material. Para a vida espiritual requer-se uma abertura ainda mais avançada para uma consciência muito mais profunda, através da qual a pessoa se torna consciente do si, do espírito, do Eterno, do Divino.  

   Essas luzes e visões não são alucinações. Elas indicam uma abertura da visão interna cujo centro está na fronte, entre as sobrancelhas. Luzes são muito freqüentemente a primeira coisa a ser vista. Elas indicam a ação ou movimento das forças sutis pertencentes aos diferentes planos do ser – a natureza da força depende da cor e intensidade da luz.

   O primeiro sinal de sua abertura de modo exteriorizado é muito freqüentemente essa visão de “faíscas” ou pequenos pontos luminosos, formas, etc., a qual foi sua primeira introdução ao assunto; um segundo sinal é, com bastante freqüência, e mais facilmente, objetos redondos e luminosos como estrelas; a visão de cores é uma terceira experiência inicial – mas elas não vêm sempre nessa ordem. Para desenvolver o poder, os yogues na India utilizam geralmente o método de tratak, concentrar a visão num ponto ou objeto – de preferência luminoso.

   A visão de cores é o início da visão interior, que é chamada de sukshmadrshti. Posteriormente essa visão se abre e a pessoa começa a ver imagens, cenas e pessoas.

Sri Aurobindo     


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