Angel of light

Visões: Textos de Sri Aurobindo e da Mãe

   A única visão verdadeira e infalível é a visão da Consciência divina. O problema, portanto, é tornar-se consciente da Consciência divina e manter esta consciência de forma contínua em todos os detalhes.
Mãe

 

   Toda visão tem um significado de um tipo ou de outro... Este poder da visão tem grande importância para o yoga e não deveria ser rejeitado, embora não seja a coisa mais importante – pois o mais importante é a transformação da consciência. Todos os outros poderes, como este da visão, deveriam ser desenvolvidos sem apego, como partes e auxílios do yoga.                 

   As visões não são indispensáveis – elas são uma ajuda, isto é tudo, quando são do tipo correto.

   Visões e vozes têm seu lugar quando são as visões genuínas e as vozes verdadeiras. Naturalmente, elas não constituem as realizações, mas apenas um passo no caminho e a pessoa não deve ficar presa a elas ou considerar a todas como de valor.

   Visões e vozes são apenas uma pequena parte desse vasto domínio de experiência oculta. Quanto à sua utilidade, para quem possui inteligência e discernimento, as visões, etc., têm muitas utilidades – mas muito pouca para aqueles que não têm nenhuma discriminação ou entendimento.

   Há visões e visões, assim como há sonhos e sonhos, e a pessoa deve desenvolver o discernimento e uma compreensão dos valores e das coisas, e saber como entender e fazer uso desses poderes.

   Visões e vozes não se destinam a criar fé, elas só são efetivas se a pessoa já possui fé.

   A visão dos planos mais elevados ou a idéia do que eles são pode ser obtida muito tempo antes da transformação. Se isto não fosse possível, como a transformação poderia ocorrer? A natureza inferior não pode mudar por si mesma, ela muda por meio de uma crescente visão, percepção e descida da consciência superior pertencente aos planos mais elevados.

   A experiência yóguica geralmente começa com uma certa abertura do terceiro olho na fronte (o centro de visão entre as sobrancelhas) ou com alguma espécie de início e extensão da visão sutil, a qual pode parecer sem importância no princípio, mas é o vestíbulo para a experiência mais profunda.

As visões podem ter considerável importância no desenvolvimento da primeira consciência yóguica, a da mente interior, do vital interior e do físico interior, ou para uma compreensão oculta do universo.

   As visões que são reais, podem ser de auxílio ao progresso espiritual; quero dizer, aquelas que nos revelam realidades interiores: a pessoa pode, por exemplo, encontrar Krishna, conversar com ele e ouvir-lhe a voz, numa visão interior “real”, e tão real quanto qualquer coisa no plano externo.

   As pessoas dão valor às visões por um motivo: por serem elas uma chave (existem outras) para se entrar em contato com os outros mundos, ou com os mundos interiores e tudo o que há neles, e estas regiões possuem imensas riquezas, as quais ultrapassam de muito o plano físico como ele é no presente.

   A pessoa entra num si mais amplo e mais livre e num mundo mais vasto e mais plástico; naturalmente, as visões individuais proporcionam apenas um contato, não uma entrada real, mas à medida que o poder da visão, acompanhado pelo poder dos outros sentidos sutis (audição, tato, etc.), se expandem, produzem essa entrada. Essas coisas não têm o efeito de uma simples imaginação (como a de um poeta ou artista, embora a deles possa ser poderosa o bastante), mas se forem levadas até o fim, produzem um constante crescimento do ser e da consciência, bem como de sua opulência de experiência e de seu âmbito.

   A visão interior é uma porta aberta para os planos superiores de consciência que se encontram além da mente física, o que possibilita que uma verdade e uma experiência mais amplas entrem e ajam sobre a mente.

   Essas primeiras visões são apenas uma borda externa – por trás existem mundos inteiros de experiência que preenchem o que para o homem natural parece um vácuo (o vazio interior de Russell) entre a consciência da terra e o Eterno e Infinito.

   As pessoas também dão valor ao poder da visão por uma razão maior do que esta: ele pode proporcionar um primeiro contato com o Divino, em suas formas e poderes; pode ser a abertura de uma comunhão com o Divino, da audição da Voz que guia, da Presença, assim como da Imagem no coração, e de muitas outras coisas que trazem aquilo que o homem busca através da religião ou do yoga.

   Ver o Brahman em toda a parte não é possível, a menos que você desenvolva a visão interior – e para isto, você deve se concentrar.

   É possível chegar à experiência direta – e ela (a visão) vir mais tarde como poderoso auxílio para a experiência; ela pode estar repleta de indicações que são de ajuda para o auto-conhecimento, para o conhecimento das coisas ou das pessoas; ela pode ser verídica e levar à previsão, à premonição e a outras aberturas de menor importância, mas muito úteis para um yogue. Em suma, a visão é um grande instrumento, embora não absolutamente indispensável.

   O que ele vê agora provavelmente são apenas imagens de cenas e objetos sutis (sukshma); mas, quando desenvolvido, esse poder pode se tornar um poder de visão simbólica, representativa ou real, mostrando as verdades das coisas ou as realidades deste ou de outros mundos, ou representações do passado, do presente ou do futuro.

   Você não pode esperar que toda visão se traduza num fato físico correspondente. Algumas o fazem, a maioria não, outras pertencem inteiramente ao suprafísico e indicam realidades, possibilidades ou tendências que têm o seu lugar ali. Até onde elas influenciarão a vida ou se realizarão nela, caso venham mesmo a fazê-lo, depende da natureza da visão, do seu poder, às vezes da vontade ou do poder formativo do vidente.

   É verdade que o campo da visão, como todos os outros campos de atividade da mente humana, é um mundo de misturas, e nele existem não apenas verdades, mas muitas meias-verdades e erros. É também verdade que ser temerário e imprudente para entrar nele, pode trazer confusão, inspirações enganosas e falsas vozes, e é mais seguro ter uma orientação correta daqueles que conhecem e têm experiência psíquica e espiritual. Deve-se olhar para esse campo calmamente e com discernimento, mas fechar as portas e rejeitar esta e outras experiências suprafísicas é limitar-se e impedir o desenvolvimento interior.

Sri Aurobindo


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