VISÕES  DE  CHAMPAKLAL

SONHOS E VISÕES  DE  CHAMPAKLAL

   Champaklal disse que após haver terminado sua meditação do dia 17 de Abril, ele pegou automaticamente um pedaço de papel e, sem qualquer pensamento, escreveu os seguintes números, esquecendo-os logo em seguida. Ele pede ao "Mother India" que os publique, na esperança de que algum numerólogo possa lançar uma luz sobre eles:

0 x 12 x 60 x 100 x 4 x 800 x 9600 x 720 x 84 x 32 x 2 x 0 x 1 x 0

11-5-1980

   Em algum lugar, no topo de uma elevada montanha, um sacerdote aproximou-se de mim e pediu-me que realizasse uma determinada cerimônia. Eu não estava muito interessado em fazê-lo. Porém, o sacerdote acrescentou: "Tenha uma experiência disto também. Sei de onde você vem, e sei a seu respeito o que você próprio desconhece". Kamalaben estava comigo e disse-me: "Como você diz, é-lhe indiferente fazer ou não fazer; que ambos lhe são iguais. Assim, não há mal algum em realizar esta cerimônia. Tenha uma experiência, como diz o Baba". O sacerdote sorriu e disse a Kamalaben: "Eu sei que ele o fará. Sei que estas coisas não lhe são absolutamente necessárias. Mas quanto a você, é melhor que a realize".
Utilizando algumas folhas e flores, como ele nos instruíra, ambos realizamos a cerimônia. Não havia nenhum tipo de deidade. Algumas pessoas ali presentes também queriam realizá-la, e pediram ao sacerdote permissão para fazê-lo. Ele porém recusou-se, e nem sequer lhes dirigiu o olhar. Elas acrescentaram: "Maharaj, para isto, daremos qualquer Dakshina que for necessária".  O sacerdote não respondeu. As pessoas insistiam muito e protestavam sem cessar. Ele inquiriu-as: "O que é que vocês podem dar? Vocês sabem como e o que dar?" Várias pessoas ficaram ofendidas com essa resposta e foram embora. Algumas todavia permaneceram, e muito humildemente submeteram-se ao sacerdote: "Por favor, diga-nos o que isto significa?"  Ele explicou-lhes: "Aqui vocês não têm que dar coisas externas, mas oferecer tudo a partir do interior. Venham quando tiverem perdido todo o interesse no que estão fazendo em seus lares. Então, certamente terei muita alegria em recebê-los". Elas indagaram: "Podemos ficar aqui por algum tempo?" O sacerdote respondeu-lhes: "Se quiserem".
Nossa cerimônia terminara. O sacerdote prestara mais atenção em Kamalaben do que em mim. Então, ele instruiu-me: "Agora, pegue todas estas flores e folhas, e siga-me". Kamalaben disse que não iria, pois já era mais do que o suficiente para ela. Declarou que todo o seu corpo se havia tornado tranqüilo e ela não queria mover-se dali. Disse-me o sacerdote: "Sim, ela não pode vir. O melhor para ela é ficar aqui". Ele pediu-me que carregasse as minhas flores e folhas junto com as dela, e em seguida saímos.
O caminho era arenoso e irregular. Nós subíamos e descíamos as pequenas colinas que havia ao longo dele. Via-se areia por toda a parte, mas enquanto caminhávamos, nossas pernas não se afundavam de forma alguma. Tínhamos a impressão de estar caminhando numa estrada sólida, mas quando olhávamos para baixo, havia somente areia. O lugar parecia um deserto. Eu já tinha ouvido a respeito dos desertos e os tinha visto também em minhas visões. Porém, esse lugar era totalmente diferente.
Prosseguindo, atravessamos uma cadeia de montanhas muito ampla, quase interminável, à nossa direita. Elas eram magníficas, multicoloridas, e pareciam querer tocar os céus. À esquerda, havia uma vasta extensão de areia cintilante. Vi então um pequeno lago, cheio de uma bonita água dourada. Soube que ele era muito profundo. O sacerdote mandou-me sentar, e ordenou-me: "Ponha tudo o que você possui nesta água", e repetiu: "Ponha tudo o que tem. Eu sei que você pode fazê-lo". Eu fiz a oferenda na água de tudo o que havia carregado, junto com as flores e as folhas. Percebi, então, que algo de cor escura emergia de mim, embora não pudesse ver de onde aquilo provinha. E isso também foi para a água. O sacerdote cantou: "Om Shanti, Om Shanti, Om Shanti, Jaya Ho!" Experimentei algo novo, mas sou incapaz de descrevê-lo. O sacerdote parecia muito feliz. Disse-lhe eu: "Quero pedir-lhe o favor de esperar-me aqui. Vou retornar. Este lugar é tão fascinante!, e sua atmosfera é absolutamente inigualável".  Tínhamos visitado muitos lugares bonitos, mas nada se comparava àquele.
Eu queria que Kamalaben pudesse partilhar também da alegria dessa experiência. O sacerdote sorriu e disse-me: "Você pode tentar, se quiser". Voltei até Kamalaben. Ela recusava-se a ir. Mas argumentei: "Você tem de vir. Você sabe muito bem que geralmente eu não insisto com nada que você não deseje ou não queira fazer, mas agora lhe peço, por mim, venha". Ela cedeu: "Tudo bem, vamos".
Depois de muito caminharmos, Kamalaben declarou: "Realmente, o lugar é extraordinário. Nós  vimos  muitos  lugares, mas  este é incomparável. Não há palavras que possam descrevê-lo! Agora percebo porque você queria que eu viesse. Oh, que atmosfera! Não se tem mais vontade de sair daqui". Tínhamos ido um pouco adiante, quando ela afirmou: "Agora, já não me é possível continuar". Fazendo-lhe a mesma observação, sugeri:  "Bem, então da próxima vez nós dois certamente iremos."
Retornei sozinho ao local onde deixara o sacerdote. Ele sorriu e disse-me: "Está satisfeito agora? Eu sabia que Kamalaben não poderia vir. Ainda não é o momento certo para ela. Mas, se eu lhe tivesse dito isso antes, você não me teria acreditado." Respondi-lhe: "Da próxima vez, quero vir com ela e com algumas outras pessoas". O sacerdote assentiu: "Sim, da próxima vez Kamalaben certamente poderá vir". Falei-lhe sobre Bansidharbhai. Ele observou: "Sim, eu sei tudo sobre ele". Perguntando-me se eu queria continuar, respondi: "De fato, sua oferta é muito tentadora, mas acho que seria melhor se eu fosse da próxima vez. Além disso, Kamalaben está à minha espera. Naturalmente, ela disse-me que não me preocupasse, que a Mãe está consigo".
Nesse momento, ouvi um som e despertei. Percebi que tivera um lindo sonho! Houve outra batida e eu me levantei para abrir a porta. Era Birendra. Surpreso em vê-lo àquela hora, pois geralmente ele vem pela manhã, pensei que talvez não quisesse incomodar-me logo cedo. Ele ficou comigo por algum tempo, e após ter saído, notei que a cortina entre o quarto de Sri Aurobindo e seu banheiro estava abaixada. Achei que ela se soltara sozinha. Mas, o lado direito da borda da cortina era fixado a um gancho, e assim, pareceu-me que ela fora abaixada por alguém. Deduzi que algum visitante especial viera ver o quarto.
Quando Birendra me deixou, faltavam dez para as seis. Após uma espera de quinze minutos, houve algum ruído e tudo voltou a ficar muito quieto. A cortina continuava abaixada. O tempo passava, mas ninguém aparecia para levantá-la e prendê-la. Imaginei que Bansidharbhai fora buscar-me a fotografia e, assim, Janardhanbhai viera tomar conta do quarto de Sri Aurobindo. Supus que ele se esquecera de erguer a cortina e já se fora. Eram seis e dez – hora de Bansidharbhai chegar. Pensei em ir até a cortina, quando Kamalaben apareceu. Perguntei-lhe por que a cortina estava abaixada. Ela não pôde compreender-me. Vi que ela preparava meu banho, e isso deixou-me muito intrigado. Estranhei essa preparação do banho àquela hora! Perguntei-lhe: "Que horas são?" Fiquei surpreso ao saber que era de manhã, enquanto eu imaginara todo o tempo que era noite!
Entretanto, eu não podia encontrar o elo desse hiato de tempo. Nunca em minha vida me acontecera algo semelhante – essa discrepância em relação ao tempo. Só a Mãe sabe a razão disso. Cada um o explicará a seu modo, mas só Ela conhece a realidade. Por um lado, eu estava muito surpreso externamente em relação ao tempo, enquanto por outro, havia o impulso interior da experiência – que fora um sonho!

11-9-1980

   Esta visão foi bastante incomum.
Algumas pessoas andavam em círculos, enquanto outras vinham de longe em sua direção, saltavam por sobre elas e desapareciam. Uma parte dessa cena era tão estranha que parecia incivilizada e, às vezes, até  mesmo obscena. Nesse momento, surgiu ali um ser imenso e fascinante, cujo corpo estava todo envolto, exceto a face, por uma veste dourada e luminosa. Ele estendeu no chão uma peça de roupa da qual se irradiava uma luz branco-neve, luz essa que passou a inundar toda a atmosfera, e pôs-se então a erguer, uma a uma, as pessoas ali reunidas; ele as deitava sobre a peça de roupa e movia as mãos sobre todo o seu corpo. Podia-se perceber que suas mãos emitiam diversas cores, as quais penetravam em todo o corpo da pessoa deitada. Embora a pessoa parecesse inerte, dava a impressão de estar plenamente consciente. Ele fez com que muitos homens se deitassem de modo semelhante e amarrou-os, formando uma trouxa. Era surpreendente como podia amarrar tantas pessoas na mesma peça de roupa. Em seguida, pôs a trouxa sobre o ombro e partiu. Mesmo após algum tempo, a luz branca ainda era visível naquele local. Depois disso, a cena seguinte não foi clara.

Setembro de 1980

   Havia num determinado local muitas construções novas em andamento, mas estavam todas inacabadas. Todavia, num aposento próximo, bem mobiliado e completo, havia alguém hospedado. Contíguo a ele, via-se um quarto muito velho e desordenado. Um homem estava a varrê-lo. Tomei-lhe a vassoura, que ele me deu de boa vontade (algo pelo qual eu não esperava), e comecei a fazer o meu trabalho. A pessoa que se encontrava no quarto oposto e bem mobiliado observava tudo isso com um sorriso.
O outro homem, que antes limpava o quarto, mostrou-me alguns quartos que estavam prontos e levou-me ao interior deles, dizendo que, dali por diante, os novos sadhaks ficariam nesses vários aposentos. E acrescentou: "Veja como estão bem mobiliados; só de ficar neles, a pessoa receberá ajuda de forma constante, num progresso inimaginável".
Quando me era dito para passar de um quarto para outro, eu não queria fazê-lo, porque cada aposento era melhor que o anterior. No último, não pude impedir-me de sentar, e assim fazendo, fechei os olhos. Imediatamente, uma paz e uma luz maravilhosas começaram a descer em mim. Todos os meus centros (chakras) se abriram, um após outro. De baixo, a luz começou a dirigir-se para os centros superiores. Por fim, algo luminoso, semelhante ao "Sudarshanchakra" (a arma circular e destrutiva do Senhor Vishnu, ou de Krishna), apareceu girando sobre minha cabeça. (*Ver nota)  A princípio, fiquei muito feliz, mas depois um pouco nervoso. E meus olhos se abriram. Fechando-os novamente, permaneci sentado, desfrutando das lembranças e experiências do último aposento. De que modo miraculoso atua a Força de Sri Aurobindo e da Mãe!


UMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL E MARAVILHOSA EM KOTTAKAL

14-9-1980

   Havia um sentimento incomum de alegria desde a manhã. Olhei o calendário e vi que era o dia do Rishi Panchami. Lembrei-me de minha cidade, Sidhpur Pattan, no Gujerat do Norte. Nesse dia, segundo o costume de nossa casta Brahmane, Moddh Chaturvedi, temos uma cerimônia de troca de nosso cordão sagrado. Recordei-me de tudo. De manhã bem cedo, íamos todos juntos banhar-nos em nosso rio Saraswati, para mudar nosso Yagnopavit (cordão sagrado). O rio é muito largo, e o lugar onde ficávamos uma área aberta, com pequenos arbustos espalhados adornando o lugar. Havia ali pequenas e belas dunas de areia cintilante. Esta continha ouro, mas era muito difícil separá-lo. O rio não era profundo. A água ficava à altura da cintura e mesmo abaixo em alguns pontos. Mas a força da correnteza era tão grande, que se tornava difícil atravessá-la. Porém, quando se ficava de pé no leito arenoso, os pés escorregavam, pois a areia se movia. Em certa época do ano, havia casos em que todo o corpo se afundava na areia. Durante a monção, o rio ficava mais fundo, e no verão não havia rio, ele secava.
Durante a cerimônia, purificávamos nossas roupas (o dhoti e o chaddar) no rio e as colocávamos na margem para secar, tomando cuidado para que ninguém as tocasse; após o banho, nos vestíamos.
O sacerdote oficiava a cerimônia e fazia com que nos banhássemos em diferentes posturas: sentados e, às vezes, de pé, com diferentes propósitos. Todos estes ritos religiosos são baseados em princípios higiênicos, mas nós os realizávamos sem nenhuma compreensão do que significavam. Contudo, nós nos divertíamos, e mesmo sem compreender nada, costumávamos esperar por esse dia. É somente pela Graça da Mãe e de Sri Aurobindo, e através da experiência por eles proporcionada, que agora compreendo o verdadeiro significado de tudo isto. É perfeitamente claro para mim agora que todos estes rituais constituem uma prece para se viver uma vida superior, são uma expressão da aspiração interior, bem como o stuti (o louvor) e a oração a diferentes deuses.
Após a cerimônia, todos trazíamos de casa nossos Ishta Devatas (divindades eleitas), juntamente com seus tronos, pequenos ou grandes. Havia tronos de metal, de madeira, e alguns deles eram muito bonitos e artisticamente trabalhados. Geralmente, o Shaligram é cultuado nesse dia. O Shaligram é negro e redondo, e apresenta-se em diversos tamanhos. Normalmente ele possui uma pequenina cavidade, mas os que são perfeitamente redondos e sem nenhuma cavidade, são considerados muito auspiciosos e raros. Meu pai possuía um bonito Shaligram, pequeno e perfeitamente redondo. Éramos, portanto, muito felizes por causa disso e, alguns de nós, até mesmo orgulhosos, pois nenhuma outra família possuía um Shaligram tão belo.
Nossa casta possuía um pequeno templo especial, no qual havia um pequeno pátio. Portando nossos Ishta Devatas, ali nos reuníamos, e, sentando-nos em duas longas fileiras, os colocávamos diante de nós. Então, o sacerdote recitava os mantras em Sânscrito e fazia-nos executar a cerimônia; cada qual realizava o puja para o seu próprio Ishta Devata. A cerimônia era longa e cheia de ritos. Ao anoitecer, terminado o puja, mudávamos nossos dhotis e o chaddar, e vestíamos coloridos pitamber de vários tipos: grosseiros, de lã, de seda, etc. Era ali que fazíamos nossa refeição. No momento de nos servirmos, cantávamos em coro o Mahimna Stotra, e quando metade da refeição havia transcorrido, cada pessoa recitava um verso. Alguns eram dotados de uma bela e sonora voz, muito suave e agradável aos ouvidos. Meu pai também possuía uma voz igualmente marcante. Havia muito riso. Costumávamos todos tomar parte na recitação e apreciávamos muitíssimo tudo aquilo. Pode a geração atual imaginar tais ocasiões e uma atmosfera tão maravilhosa?

   Uma voz de comando muito clara, mas ao mesmo tempo compassiva, é ouvida:  "Venha comigo, venha comigo, não tenha medo! Venha sem nenhuma expectativa e observe tudo o que acontecer!" Respondi: "Eu já não alimento nenhuma esperança, mas o que me diz é correto. Antes de vir até aqui, eu esperava ser capaz de caminhar exatamente como antes. Após ter vindo, essa esperança já não existe. Isto significa que eu sinto que posso não ter sido curado. Todavia, isto não se deve ao desespero, mas à certeza de que o Divino fará o que for melhor para mim. E esta fé está se tornando, dia a dia, cada vez mais firme. A Mãe proporcionou-me esta experiência em cada momento de minha vida. Em Pondicherry, quando alguém me perguntava 'Como está?', minha resposta freqüente era: "A Misericordiosa Mãe, por meio de sua Graça Infinita, fez-me caminhar apenas o quanto foi necessário. A coisa mais importante é a minha condição interior, e ela é muito boa. Assim, o que mais é preciso?  A cada dia, de modo constante, a Graça Infinita da Misericordiosa Mãe está sendo experimentada".
Aquele cuja voz fora ouvida, tornou a falar, permanecendo invisível. Não era a voz da Mãe nem a de Sri Aurobindo, mas era plena de compaixão, doçura e encanto.
Durante a sessão de massagem, achava-me deitado sobre o Dhara Patthi (um longo tabuleiro de madeira utilizado no Malabar para as sessões de massagem). Senti como se todo o Patthi estivesse a elevar-se. Experimentei simultaneamente desconforto e medo. O Patthi inclina-se e torna-se instável. Depois de ascender a uma certa altura, de súbito, quatro lâmpadas ardentes aparecem-lhe nos quatro ângulos. A princípio, o Patthi sobe muito lentamente. Após algum tempo, ele está a conduzir-me para cima com a velocidade de um avião, avançando sem cessar pelo espaço.
De uma obscuridade ligeira ele passa a domínios de profunda escuridão. Eu jamais vira um negrume como aquele antes. À medida que o Patthi dispara pelo espaço, a escuridão vai diminuindo pouco a pouco. Agora o espaço está preenchido pela cor cinza. Atravesso-a também, subindo continuamente. Em seguida, vejo uma luz absolutamente branca – nada senão luz branca por toda a parte. A característica especial dessa luz consistia em ser ela viva e vibrante. É muito difícil explicar. Prossegui nessa ascensão a regiões cada vez mais elevadas. Após percorrer uma certa distância, vejo brilhando ao longe, muito ao longe, um sol resplandecente, belíssimo, de um vermelho claro e brilhante. Suas chamas incandescentes e radiantes, mesmo estando a uma grande distância, queimavam-me o corpo e faziam com que me sentisse sufocado.
Nesse instante, a mesma e compassiva voz de comando é novamente ouvida, e volta a tranqüilizar-me: "Não tenha medo, não tenha medo, nenhuma espécie de medo! Lembre-se do que lhe disse logo no início!" De imediato, senti que aquelas luminosas chamas removeram alguma coisa de todo o meu corpo, o qual se tornou extremamente leve como uma flor. Eu avançava e aproximava-me  cada vez mais daquele sol vermelho. Agora, a luz de suas deslumbrantes chamas enchiam-me de beatitude! Meu corpo não se queimava de forma alguma! Penetrando naquele sol flamejante, atravessei-o e avancei velozmente, subindo sem cessar! Um após outro, a imensas distâncias, eu me precipitava através de cada um dos sóis, os quais eram inumeráveis, belíssimos, fulgurantes, esplêndidos, e de variados e brilhantes matizes! Eles encontravam-se a grandes distâncias uns dos outros. Então, experimentei a sensação de que havia algo novo no corpo, tanto por fora como por dentro. Senti que havia nele uma substância totalmente diferente.
Eu continuava deitado no mesmo Patthi, mas agora me sentia como se estivesse no espaço – um pouco acima do Patthi, e dessa vez, belíssimas luzes brilhantes, resplandecentes e cintilantes, de diferentes cores, começaram a entrar-me no corpo. Esse processo continuou por longo tempo. A partir disso, meu corpo também começou a ascender cada vez mais alto. Após alcançar uma certa altitude, contemplei um sol dourado extremamente luminoso e tremeluzente, maravilhoso e inigualável. Era um sol ilimitado, infinito: de cima até embaixo e também dos lados, não havia fim! Eu via sua luz dourada cobrindo todo o "brahmanda" (o universo), e tudo estava saturado por essa luz dourada. Todo o meu corpo tornou-se igualmente venturoso e reluzente, como que constituído apenas de luz. À medida que me aproximava mais e mais desse sol dourado, eu passava por experiências novas e inteiramente diferentes, as quais é impossível exprimir em palavras.
E outra vez, a voz do homem invisível foi ouvida: "Seja vigilante, seja vigilante, sempre e constantemente vigilante! Seu tempo real está começando agora!"  Chegar bem perto dessas luzes brilhantes, esplendorosas e fulgurantes, produziu em mim um frescor inimaginável, e, num átimo, entrei naquele maravilhoso e resplandecente sol dourado. Nesse mesmo instante, ouvi a voz do massagista dizendo: "Ulta, ulta" (vire-se, vire-se)! Tive um pequeno choque e olhei para ele com grande surpresa. Mas, como poderia ele entender? Uma experiência inesquecível e maravilhosa permanece inacabada, mas deixa-me com uma clara mudança interior. E agora, há um poderoso e vibrante sentimento de que nada mais tenho a fazer. Eles farão tudo – o que quer que seja necessário.

16-9-1980

   Havia uma residência inteiramente nova, a qual pertencia à Mãe. Após terminar suas refeições, a Mãe costumava dar-me a tigela que continha um pouco da fruta "Ramful" que nela restara.
Vasudhaben pediu-me a tigela e eu lhe disse: "Espere um pouco. Eu lha darei bem antes que se vá; antes, vou juntar a polpa da fruta numa parte da tigela, para que permaneça em boas condições". Mas ela retorquiu: "Dê-ma assim mesmo". Nesse meio tempo, um grupo de pessoas havia se aproximado de Vasudhaben. Ela pediu-me que distribuísse entre elas a polpa de fruta que sobrara, mas recusei-me a fazê-lo. Isso não podia ser dado. Eu sentia que nenhuma delas tinha o menor desejo de obter esse "Prasad"; Vasudhaben, por razões próprias, queria dá-lo àquela gente. Eu não aprovava isso. Somente quando o Prasad é dado a uma pessoa que o mereça, ele cumpre o seu propósito e traz bons resultados à sua vida. Quando a pessoa compreende o verdadeiro valor do Prasad, ela pode obter auxílio em sua vida superior. Naturalmente, os demais também ganham alguma coisa com isto. Mas eu não achava correto dar o "Prasad" àquelas pessoas. Se, ao invés disso, ele é dado a pessoas que são dignas dele, elas obterão plenamente o seu benefício. Nem todos podem compreender isto. Tivesse Vasudhaben desejado oferecê-lo a pessoas que o merecessem, certamente eu lho teria dado. Assim, convencida de que ninguém podia dizer "não" a ela, ficou bastante zangada comigo e disse-me com uma voz muito severa: "Vou dizer à Mãe. Veremos então se você me dá isto ou não". Não é que eu não quisesse dá-lo, por isso não me preocupei e permaneci tranqüilo. Após algum tempo, ela voltou cabisbaixa e informou-me: "Ela disse não". E foi embora, um tanto quanto chateada.

23-9-1980

   Havia uma construção completamente diferente das que foram vistas até agora. As paredes eram feitas de luz, e uma luz dourada irradiava-se dela em todas as direções. Essa luz entrava em mim e eu podia sentir algo incomum acontecendo-me em todo o corpo. Ele também se tornou luminoso, e tão leve que tive a impressão de que ia voar. Então, surgiu novamente um sentimento de firmeza dentro de mim.
Entrei na construção e vi Sri Aurobindo sentado em seu interior com algumas pessoas. Ele pediu-lhes que voltassem mais tarde. Encaminhei-me diretamente para Ele, pousei a cabeça sobre Seu regaço, e as lágrimas começaram a fluir-me dos olhos. Ele começou a secá-los com Seu lenço, mas o fluxo de lágrimas não diminuía. Por fim, Ele ergueu-me a cabeça e, com um doce sorriso, disse-me: "Champaklal! Olhe para mim! Olhe para mim! Olhe para mim!" Eu olhei para Ele. O que vi é indescritível. As lágrimas cessaram. Eram lágrimas de Gratidão.


O SÁBIO E O LIVRO ANTIGO

28-9-1980

   Nós saímos com algumas pessoas, mas não conhecíamos a nenhuma delas. Subitamente, vi-me isolado. Não sei como isso aconteceu. Olhei em volta, mas todos me haviam deixado e partido. Eu pensava no que fazer, quando alguém apareceu e perguntou-me: "Por que você está sentado aqui?"  Narrei-lhe todo o incidente. "Não importa", disse-me ele, "venha comigo; em breve chegará um trem para você". Pediu-me então que me sentasse e foi embora.
Decidi caminhar por ali e, logo em seguida, vi algo semelhante a uma loja; ao entrar, porém, descobri que não era uma loja, mas uma biblioteca. Havia nela algumas pessoas ocupadas em ler -- embora passassem a maior parte do tempo conversando. Perto da entrada, havia uma cesta de lixo na qual vi algo parecido a uma longa agenda. Peguei-a de modo hesitante e notei que a escrita fora feita apenas sobre um lado da folha, deixando o outro em branco. Devia ser uma agenda antiga, pois todas as páginas estavam amareladas. Perguntei a uma pessoa sentada próxima, se alguém havia jogado aquilo lá por engano.  "Não, não, é um livro velho e inútil; você pode ver pela cor das páginas".  "É muito antigo", disse-lhe eu, "e há algo escrito nele".  Ele comentou: "É um palavrório sem sentido de algum louco".  "Posso levá-lo?" Perguntei. Todos explodiram em risos. "Sim, sim, certamente que pode levá-lo". Um deles riu e disse-me: "Você prestou-nos um bom serviço, reduzindo nossa carga". E todos riram novamente. A princípio, eu o pegara com a intenção de usar o lado em branco das folhas, mas fiquei mais interessado nele ao ouvir que era o palavrório de um louco, porque geralmente aquilo que é ignorado por nós como sendo a conversa de um louco, pode ser, às vezes, muito interessante. Então, levei-o para olhá-lo com calma.
Havia um jardim próximo. Nesse meio tempo, um carro chegou e o vigia correu a abrir a porta. Havia no carro um sábio sentado no banco de trás e, ao lado do motorista, um homem que aparentava ser rico, mas trajando roupas simples. Não sei por que motivo achei que ele fosse rico. Quando a porta se abriu, eu segui o carro. Mas, o porteiro gritou: "Ei, espere!" Ouvindo-o gritar, o sábio mandou parar o carro. O homem sentado na frente disse-lhe: "Swamiji, isso não é conosco". No entanto, o Swamiji quis saber o que havia realmente acontecido. Vendo-me, pediu-me que tomasse assento junto a si no carro. Ele ficou muito contente ao ver em minha mão o livro que eu pegara na cesta de lixo, e perguntou-me: "É seu?" Respondi-lhe: "É meu, enquanto a vontade do Onipotente me permita guardá-lo". O Swamiji indagou:  "Que quer dizer?"  Descrevi em detalhe como conseguira o livro.
O Swamiji informou-me: "Este é um livro raro. Há muitos anos, houve um santo que permaneceu desconhecido. Foi tudo o que me contou meu Guruji. Eu estava à procura deste livro, mas em vão. Hoje, por acaso, eu o consegui. Muito embora, aquilo que consideramos uma ocorrência casual, não o seja realmente. Agora, venha comigo". Fui sem qualquer hesitação. Vendo o Swamiji tratar-me com respeito, o outro cavalheiro também o fez. Entramos num edifício especialmente construído para o Swamiji, o qual estava situado num local tão singular, que eu tinha a impressão de estar nos Himalayas. O Swamiji mostrou-me o lugar e instou amavelmente comigo que ficasse. Disse-lhe que precisava ir, para encontrar as pessoas que me acompanhavam. O Swamiji afirmou-me não ser isso possível, pois elas me haviam deixado de propósito. Eu não estava convencido. O Swamiji sorriu e continuou: "Eu esperava que não acreditasse, mas é verdade. Fique aqui. Você não pode ler tudo o que está escrito neste livro, só pode compreender um pouco, aqui e ali. Mesmo que eu o leia para você, é preciso ter experiência para entendê-lo. Terei muito prazer em explicar-lhe tudo isto".  Disse-lhe que ele poderia ficar com o livro se quisesse, e o Swamiji respondeu-me: "Dá no mesmo você possuí-lo ou eu. Mas agora, você pode ir e descansar no quarto da frente".  Meus olhos se abriram.              


INFINITOS DEGRAUS

29-9-1980

   Havia uma construção gigantesca, com inumeráveis degraus para se alcançar o topo. Durante a subida, eu tinha freqüentemente a impressão de que só faltavam alguns degraus, mas isso não ocorria, pois os degraus não tinham fim. Essa construção pertencia a Sri Aurobindo e à Mãe. O desejo de subir cada vez mais alto intensificava-se, mas os degraus pareciam infindáveis. Finalmente, decidi não pensar nos degraus restantes. Não é agradável apenas subi-los?
Nesse meio tempo, uma criancinha apareceu sorrindo, parou diante de mim e disse-me: "Por que você demorou tanto? Estão todos à sua espera". Então, aquela criança segurou-me pelo dedo e conduziu-me mais e mais para cima; eu sentia como se estivesse saltando e não subindo pelos degraus. Logo, a criança levou-me à porta de entrada e desapareceu.
Assim que entrei, vi uma sala imensa, abarrotada de coisas diversas. Havia algumas caixas que, por sua aparência, pareciam conter artigos valiosos. Nesse meio tempo, a Mãe surgiu e pediu-me que abrisse uma das caixas, dizendo-me: "Dentro, há um calçado com o qual se pode caminhar tanto quanto se queira, sem se cansar; mas pouquíssimas pessoas sabem como usá-lo". De repente, vi um ser luminoso aproximar-se de mim.  Oh, era Sri Aurobindo!  Ele pôs Sua abençoada mão sobre minha cabeça e, em seguida, colocou-me algo na mão; imediatamente, prosternei-me diante dele. Segurando-me pela mão, Ele ergueu-me. Meus olhos se abriram. Nesse mesmo instante, Kamalaben apareceu e perguntou-me: "Você estava dormindo, não estava? Você percebeu que eu havia chegado?"  Só então me dei conta de que estivera realmente dormindo, quando achava estar desperto.

 

1980

   Um vasto local aberto, e extremamente belo, é contemplado. Muitos homens e mulheres, meninos e meninas, são vistos ali.
Vê-se também um ser encantador e fascinante, o qual toma uma pessoa por vez da multidão e arremessa-a para o alto. Embora muitas pessoas estejam ansiosas por ir até ele, a seleção de cada uma é feita apenas por aquele fascinante ser.
Cada pessoa arremessada para o alto, continua a subir sem cessar e, finalmente, desaparece. Tudo isso era muito excitante e, no entanto, a atmosfera estava cheia de paz.

 

1980

   Havia uma bela e esplêndida sala, toda cheia de luz. Suas paredes e o teto eram transparentes. Viam-se nessa enorme sala diversos montes de objetos variados. Muitos deles eram de diferentes tipos de moedas de ouro e de prata, sendo que alguns possuíam também uma variedade de jóias. Cada monte era distinto dos demais. Havia alguns cujos objetos não podiam ser identificados. Uma luz multicolorida irradiava-se de todos esses montes e espalhava-se por toda a sala.
Sobre cada monte, uma encantadora e radiante pessoa achava-se sentada, trajando belas e coloridas vestes. A sala era tão fascinante, que eu não tinha mais vontade de deixá-la. Algumas das pessoas sentadas sobre os montes estavam muito serenas; umas tinham os olhos abertos, enquanto outras os mantinham fechados. Algumas pareciam conversar com alguém, embora nenhuma outra pessoa fosse vista ao redor. Tudo parecia muito misterioso.                                             

 


1980

   Eu olhava para o conjunto da construção e vi à sua direita uma montanha. Fiquei surpreso, pensando em como não a vira de início.
Ela não era composta de rochas comuns, mas de belas e reluzentes camadas multicoloridas. Uma água quente e fumegante fluía delas. O vapor espalhava por todas as imediações um tipo característico e agradável de fragrância. Mas, ao invés de ser quente, o vapor produzia um efeito refrescante ao aproximar-se de nós, e o corpo todo palpitava de alegria. Não se podia perceber para onde fluía aquela água multicolorida. Por trás dessa montanha, muitas e bem ornamentadas montanhas resplandeciam em diversas cores. A última delas era muito alta e coberta de neve. Embora a neve normalmente seja branca, esta tremeluzia com uma cor dourada. Um determinado ser de cor dourada estava sentado sobre o cume da montanha e era muito claramente visível, mesmo estando a uma grande altura. (Este ser não era humano.)   

[Em resposta a nossa pergunta, Champaklal disse que aquele "ser" era o Senhor Shiva.]                                               

Um Sonho, mas muito real para ser chamado de Sonho

8-4-1981 - 2:30 da madrugada

   Em algum lugar, havia uma residência totalmente diferente e desconhecida; toda a sua construção também era diferente; era como se ela estivesse no espaço e não houvesse nada mais nele, a não ser essa residência.
A Mãe estava muito séria. Pousei a cabeça sobre o Seu regaço, e Ela começou a acariciá-la com suavidade e ternura; e continuou a fazê-lo por algum tempo. Então, chamou-me: "Champaklal, Champaklal, Champaklal!"  Não respondi, e permaneci na mesma posição. Eu perdera todo o controle sobre mim mesmo e não podia erguer a cabeça. Então, não sei como ou de que maneira, minha cabeça foi erguida e olhei para a Mãe. Eu também estava muito sério. A Mãe fez-me sinal que falasse, como se soubesse que eu tinha algo a dizer. E Ela insistia comigo para que o dissesse. Então, respondi-lhe: "Mãe, nada tenho a dizer". Ela inclinou a cabeça, indicando: "Não é bem assim!" Evidentemente, Ela sabia o que eu tinha a dizer e, sem pronunciar uma só palavra, pressionava-me para dizê-lo. Repeti: "Mãe, não tenho nada a dizer". A Mãe balançou novamente a cabeça, significando: "Não é bem assim!"
A Mãe estava de fato muito séria. Eu nunca A tinha visto tão séria, mas Ela era ao mesmo tempo muito afetuosa e compassiva. Eu estava mergulhando cada vez mais no interior e perdendo-me completamente. Ela, porém, não permitiu que me interiorizasse, e dirigiu-me outra vez um olhar muito amoroso e cheio de compaixão. Seus olhos penetravam-me como se me entrassem em cada célula do corpo. "Champaklal", disse-me Ela, "o ano vindouro é muito ruim, muito ruim, fale!"  Respondi-lhe: "Sim, Mãe, não tenho nada a dizer". E Ela: "Sim, eu sei, Champaklal; sim, eu sei bem agora".
E inclinou todo o Seu corpo sobre mim. Então, ele começou a ficar cada vez mais amplo, até se tornar ilimitado e cobrir tudo no espaço. Não havia senão o Seu Corpo sem limites. E Ela tomou-me em Seus braços. Não sei o que aconteceu posteriormente, mas ouvi apenas Suas claras palavras: "Eu verei."  Havia uma certeza absoluta em Suas palavras e Sua voz. Ao despertar, eu sentia uma paz inimaginável.

  
Este foi um tipo novo e diferente de sonho. A Mãe estava em Sua forma absolutamente característica. É difícil dizer qualquer coisa sobre esta forma


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