VISÕES  DE  CHAMPAKLAL

SONHOS E VISÕES  DE  CHAMPAKLAL

9-12-1979

   Foi em 9 de Dezembro de 1979, um dos dias que estimamos como excepcionais, enobrecedores e auspiciosos. Eu vi o pátio do Samadhi um pouco maior do que é atualmente. A Casa do Roseiral (a construção ao sul do Samadhi) não estava lá. Lembro-me de ter ouvido a Mãe dizer uma vez: "Vamos construir uma grande Sala de Meditação ali". Incidentalmente, a principal construção atual do Ashram consiste em quatro casas. É muito interessante e muito simbólico, pois a Mãe deu ao número quatro o significado de "Manifestação".
As pessoas estavam meditando no pátio do Samadhi. Nossas queridas crianças também se achavam ali, sentadas a um canto. Notei que algumas crianças se levantavam e se moviam com grande quietude para mudar de lugar. Elas caminhavam de tal maneira, que pareciam mover-se guiadas por uma Força invisível. Seus movimentos não causavam nenhuma espécie de perturbação. A atmosfera estava extremamente tranqüila.
Um pouco mais tarde, vi que a nossa amada árvore do Serviço se encontrava defronte do lado oeste do Samadhi. Ela se movia muito lentamente ao seu redor. O movimento era tão lento que mal se podia percebê-lo. Depois de ter feito uma Pradakshina do Samadhi, ela retornou ao seu lugar, em frente ao lado norte. Em seguida, começou a crescer e tornar-se cada vez mais alta, seus ramos começaram a estender-se cada vez mais longe e ampliar-se em todas as direções, até cobrirem todo o universo!  Sim, todo  o universo! Vi isso com meus próprios olhos! Eu podia ver que os ramos se haviam estendido, mas não pude perceber como; o movimento de extensão não fora visível. Então, a árvore ficou repleta de douradas flores do serviço, imensas, luminosas e transparentes. Eu não conseguia ver-lhe os ramos, as folhas ou o tronco, mas apenas flores e mais flores. Era uma visão maravilhosa, magnífica e inimaginável, a qual me proporcionou uma inexprimível alegria e Ananda. Um pouco depois, a árvore assumiu gradualmente sua forma e tamanho originais. Também dessa vez, o movimento de contração não foi perceptível.
Todas as pessoas que estavam meditando, podiam ser vistas sentadas sobre aquelas luminosas flores da árvore do Serviço, como se estivessem sobre um aveludado e dourado tapete real. Mas a árvore também se achava repleta, como antes, daquelas esplêndidas flores; a quantidade delas não diminuíra em nada!
Então, tive uma visão excepcional. Vi que de cada pessoa ali sentada, emergia um fogo. Em alguns casos, ele emergia da fronte, em outros, do coração, em outros ainda, do umbigo, e assim por diante. Cada chama possuía uma cor diferente – umas eram branco-leite, algumas branco-neve, outras eram vermelhas, verdes, amarelas, azuis, prateadas, rosadas, douradas, algumas de cores misturadas, e, em raros casos, até mesmo de cor cinza. Essas chamas assemelhavam-se a um Yajnavedi (Fogo Sacrificial) diante de cada um dos presentes. As chamas começaram a elevar-se, e algumas subiam muito alto – cada qual a uma altura diferente. Era uma visão igualmente maravilhosa.
De repente, vi no meio do pátio do Samadhi, em pleno espaço, um Assura muito alto. Sua cor era marrom, mas gradualmente ele começou a mudá-la e ela tornou-se cada vez mais escura, até ficar negra como breu. Ela reluzia. Seus globos oculares eram grandes, redondos e medonhos. O nariz era muito longo e pontudo, e dessa parte frontal ele expelia uma substância cinzenta, que se espalhava por toda a parte. Ele não tinha orelhas, mas duas grandes e fundas cavidades. A boca era imensa, redonda e disforme, e havia algo que se projetava dela também. Sua forma, como um todo, era hedionda, abominável e terrificante. Ele pôs-se a dançar de modo horrivelmente feio e a mover as pernas para cima e para baixo com tremenda força, em todas as direções. Pouco a pouco, ele começou a expandir seu corpo, e, tornando-se muito gordo, como um grande balão, assumiu uma estatura gigantesca. Olhando para todos os lados, ele riu de maneira horripilante, e o seu riso ressoou, produzindo um eco aterrador. Seus olhos ferozes tornaram-se vermelhos como fogo. Ele batia as mãos e fazia vigorosos gestos em todas as direções com uma fúria terrível, como se estivesse lançando alguma coisa na atmosfera. Nesse momento, vi no espaço inúmeras criaturas, diminutas e estranhas, movendo-se de um lado para o outro, por toda a parte. Eram muito feias, e não possuíam orelhas nem narizes; a algumas faltavam até mesmo os olhos e  as mãos. As que tinham olhos pareciam muito cruéis. Todas elas precipitaram-se num movimento ciclônico e, dirigindo-se ao Yajnavedi diante de cada pessoa, começaram a destruir as chamas sacrificiais. Algumas chamas foram extintas, enquanto outras não puderam ser apagadas.
Com um olhar feroz e uma aparência medonha, o Assura olhou em volta. Nesse instante, a atmosfera tornou-se muito sombria e perturbada. Mas nenhuma das pessoas se moveu do lugar, nem mesmo as crianças pequenas; continuavam todas em sua meditação. O Assura deleitava-se a olhar as pequenas criaturas, e estava evidentemente muito feliz com o trabalho de destruição que elas realizavam. Ele riu alto, de modo horrendo, e precipitou-se em direção ao Samadhi. Instantaneamente, uma Luz branca e brilhante desceu com grande velocidade e preencheu todo o pátio; como resultado, o Assura foi imediatamente paralisado, e não podia nem mesmo se mover no lugar em que estava.
Eu o via lutar terrivelmente para mover-se, mas ele era incapaz de alcançar o Samadhi. Talvez ele quisesse destruí-lo, a julgar por seu olhar. À medida que a Luz descia, o corpo do Assura tornou-se branco como leite até o peito. O resto permanecia marrom. As pequenas e inúmeras criaturas já não se encontravam ali – foram todas dissolvidas na Luz branca.
Ao voltar o olhar para cima, deparei-me com uma indescritível e magnífica visão. Vi descer lentamente das alturas, um majestoso Corpo dourado dos Dois-Que-São-Um, fascinante, transparente, luminoso, cintilante, a irradiar uma resplandecente Luz dourada em todas as direções. Ele parou no espaço, um pouco acima do solo. Seus olhos reluzentes brilhavam com um doce, magnético e beatífico sorriso. Seu compassivo olhar deteve-se sobre cada uma das pessoas que ali meditavam e com Suas belas mãos de lótus, num gesto (mudra) de Benção, derramou uma abundante Graça sobre todas.
Cada uma das pessoas meditava em meio a uma refulgente Luz dourada. Agora, diante delas, suas chamas sacrificiais eram vistas como antes. Elas ascendiam cada vez mais, com grande intensidade; algumas pairavam a uma grande altura. A atmosfera tornara-se muito calma, plena de paz e enlevo. Era uma visão maravilhosa, fascinante e inigualável de se contemplar!  O Assura já não se achava presente!

26-12-1979

   Eu estava dormindo no quarto de Sri Aurobindo e tive um sonho.
Sri Aurobindo estava recitando o Savitri, e Sua voz era muito doce e melodiosa. Ouvia-se também a melodia de um instrumento musical, cujo som assemelhava-se ao da flauta, embora não se tratasse desse instrumento. Era um som que eu jamais ouvira antes. Por várias vezes, em meus sonhos, tive a graça de ouvir Sri Aurobindo tocando uma flauta; essa melodia porém, com aquela voz a acompanhá-la, era maravilhosa e arrebatadora. Eu podia ouvir também a voz de Nirod, a recitar com Ele o poema. Senti-me cheio de quietude, e o corpo todo se me tornou extremamente tranqüilo. Eu queria sair para ouvir aquela voz e aquela música encantadoras. Elas vinham da "longa passagem" (como a Mãe a chamava), do lado de fora do quarto de Sri Aurobindo, onde Ele tinha por costume sentar-se em Sua cadeira para escrever e recitar o Savitri; e eu costumava ouvi-lo da "Sala de Meditação" ao lado. Por fim, fiz um grande esforço para levantar-me. Ergui-me de um salto e corri para a longa passagem. Mas ela estava às escuras! Olhei para o quarto de Nirod. Sua luz estava acesa e ele se achava de pé no meio do quarto. Vendo-me correr para fora do quarto de Sri Aurobindo, ele perguntou-me: "Que aconteceu?  Você sonhou com alguma coisa ou o quê?"
Não havendo encontrado nada ali, percebi que tudo fora um sonho! Mas fora tão concreto e tão vivo! Não respondi a Nirod. Não me achava em condições de dizer nada naquele momento. Voltei silenciosamente para minha cama no quarto de Sri Aurobindo.

5-1-1980

   Vishnubhai veio até mim, deu-me dois bonitos ramalhetes da flor "Gratidão" e saiu sem dizer nada. Logo depois que ele me deixou, ocorreu-me que eu deveria ter-lhe dado uma flor. Mas, ele já se fora. Onde conseguira flores tão bonitas? Eu já vira muitas flores da "Gratidão", mas nesse dia, era a primeira vez que via algumas tão extraordinárias. Normalmente, as flores da "Gratidão" são muito pouco perfumadas, mas estas estavam carregadas de um perfume que inundou todo o quarto. Que doce fragrância!
Levei-as para a Mãe. Ela acabara de entrar no quarto e olhava em volta muito feliz. Enquanto oferecia minhas saudações, pousei a cabeça sobre o Seu regaço; Ela afagou-a com ambas as mãos e pressionou-a muitas vezes. Ao erguê-la, vi minhas mãos, com as flores, pressionadas por Ela contra o seu peito.
Disse-me Ela: "Champaklal! Esta é a sua gratidão. Como você fez para conseguí-la? E onde?"  Narrei-lhe todo o incidente. Então, cheia de alegria, e fitando-me continuamente nos olhos, Ela deu-me um dos ramalhetes, e do outro, selecionou uma flor e pediu-me que a desse a Vishnubhai. Estendi a mão para dá-la a Vishnubhai e a visão terminou.

7-1-1980

   Sri Aurobindo estava fazendo sua refeição numa construção nova. Não havia nenhuma luz no aposento, mas era como se a luz estivesse a irradiar-se d'Ele em diversas cores. Por fim, surgiu a luz dourada, e todo o aposento foi preenchido por ela. Agora, Sri Aurobindo já não era visto; em seu lugar havia um monte de diamantes dourados. Esses diamantes eram imensos e cada qual mais precioso que o outro. O menor deles tinha cerca de 30 cm de comprimento, e os outros eram ainda maiores. O monte começou a elevar-se lentamente e a expandir-se para todos os lados. Torrentes de várias cores fluíam dele. Finalmente, vi uma luz branco-neve, e em lugar dos diamantes, havia um enorme lótus. O aposento já não existia, mas num vasto local que ultrapassa toda imaginação, via-se um imenso lótus dourado, no qual Sri Aurobindo e a Mãe se achavam gloriosamente sentados, possuindo corpos gigantescos.  Em seguida, do local iluminado ao seu redor, surgiram várias pessoas.  Viam-se também lindas criancinhas. Todas elas se moviam em torno de Sri Aurobindo e da Mãe. Uma a uma, elas dirigiam-se a Eles e ofereciam-lhes suas saudações, mas subseqüentemente eu não as via se levantando. Por fim, também eu fui apresentar-lhes minhas saudações. Uma de minhas mãos foi segurada pela Mãe e a outra por Sri Aurobindo. Ambos tinham as mãos livres pousadas sobre minha cabeça. Primeiramente, pousei a cabeça no regaço da Mãe e depois no de Sri Aurobindo. Então, coloquei a cabeça entre ambos, e a Mãe cobriu-a com a parte superior de seu sari. Em seguida, todo o meu corpo foi coberto. Não sei o que aconteceu depois. A visão terminou e meus olhos se abriram.

2-2-1980

   Vi meu próprio corpo morto bem diante de mim. O corpo todo estava impregnado de uma brilhante luz branca, cujos raios espalhavam-se por todo o local. Sobre o coração havia uma esfera luminosa de cor branco-neve. Eu observava tudo isso solenemente e em silêncio. Súbito, meus olhos foram atraídos para um ponto a alguma distância de mim. Vi a Mãe com um lindo bebê no regaço. Senti que eu próprio era aquele bebê. A Mãe acariciou-lhe a fronte, depois a cabeça e todo o corpo. Era mais que acariciar – não encontro a palavra apropriada. E continuou a fazê-lo por algum tempo.
Então, notei que o bebê abrira os olhos e, com um doce sorriso,começara a olhar para a Mãe. Ela deu-lhe um terno beijo entre as sobrancelhas e, com um afetuoso sorriso, cheio de amor e compaixão, olhou-o fixamente. Nesse momento, o bebê estava como que em meio de uma brilhante Luz líquida, de cor branco-neve, e seu corpo também parecia ser feito daquela mesma luz. Enquanto via isso, senti como seria maravilhoso morrer freqüentemente desse modo!
Não me recordo da continuação do sonho, mas  um  maravilhoso e  inexprimível sentimento permanece impresso em mim quanto ao modo como a Mãe olhava para o bebê e o acariciava. Era algo muito profundo e tocante!

29-2-1980 (Manhã)

   Vi um imenso e magnífico edifício de muitos andares. Havia um grande número de pessoas reunidas nele. Mas, não havia entre elas uma só que me fosse conhecida. Moviam-se de um lado para o outro como se estivessem com muita pressa. Percebi que apesar de seus apressados movimentos, elas não se empurravam. Todas circulavam por ali muito silenciosamente e sem nenhum ruído. Perguntei para onde todas aquelas pessoas se dirigiam, e soube que quem pudesse subir ao andar mais alto e fosse capaz de retornar, teria todos os seus problemas automaticamente solucionados. Disseram-me também que aquele edifício possuía 108 andares. Todo o seu sistema de escadas havia sido construído como um labirinto.
A toda e qualquer pessoa que quisesse subir, algumas instruções eram dadas antes de começar. Havia muitas instruções, mas a principal delas era esta: se a pessoa perder o caminho e for incapaz de continuar, deve dirigir-se ao salão que existe em cada pavimento, adjacente à escada, e permanecer em seu centro. Então, de imediato, um sino toca automaticamente e o som alcança o andar mais alto; de lá desce uma pessoa, que lhe dá todas as instruções necessárias para a subida. Após tê-lo feito, essa pessoa torna-se invisível. Apesar disso, alguns preferem voltar, ao invés de subir. São poucos os que fazem a escolha de seguir em frente. Outros nem sequer vão ao salão para receber instruções. Pouquíssimas pessoas são capazes de subir diretamente ao 108º andar sem nenhuma instrução.
Não me recordo do que aconteceu depois disso.
A cena muda. Estou caminhando sem parar e passando através de bonitos lugares ao longo do caminho. Alguns deles são tão belos e atraentes, que se pode ficar tentado a permanecer ali e não seguir em frente. Em muitos locais, a estrada descia numa profunda depressão e tornava a subir. Caminhei bastante e cheguei a um lugar que se assemelhava a um deserto. Minhas pernas afundavam-se na areia. A temperatura era altíssima e o calor, insuportável. Tão quente também era o vento, que eu não sabia o que fazer. Nesse momento, notei que vinha alguém em minha direção. Disse-me ele: "Eu estava voltando, mas agora, depois de vê-lo, estou pensando em seguir também o caminho com você. Vamos juntos e devagar, pois o caminho é muito difícil". Com grande dificuldade prosseguimos numa interminável caminhada, até que, subitamente, nos deleitamos com a visão de um grupo de crianças a brincar no meio daquele calor do deserto. Quando nos viram, todas as crianças começaram a pular e a dançar, cantando a toda voz: 

Jaya bolo – Clamem vitória!
jaya bolo, jaya bolo, jaya bolo, jaya bolo bhai.

   Em seguida, as crianças agarraram-nos pelas mãos e disseram: "Vamos". Mas nisso, houve entre elas uma terna disputa, pois cada criança estava ansiosa por levar-nos à sua própria casa.  Se uma dissesse: "Venham à minha casa", a outra insistiria: "Não, não, vocês devem vir à minha casa". Isso continuou por algum tempo. As crianças, que antes se achavam tão felizes e alegres, agora se haviam tornado muito sérias. A mais nova entre elas saiu do grupo e, pondo-se diante dele, dirigiu-se às outras crianças, sugerindo: "Vamos fazer o seguinte: primeiro, podemos levá-los ao templo de nossa querida Mãe. Então, faremos o que o nosso Babaji nos disser". Perguntamos: "Quem é esse Babaji?" Ele respondeu-nos: "Há uma longa história sobre o Babaji, mas no momento eu diria apenas que, para todas as nossas dificuldades, o Babaji obtém a solução diretamente da Mãe. Por causa disso, não há nenhuma espécie de desentendimento entre nós. Tão belo e fascinante é o templo de nossa Mãe, que vocês não vão mais querer deixá-lo, desejando ali permanecer. Mas, é muito difícil permanecer nele. Contudo, só de ver o Babaji vocês ficarão muito felizes. Quando lá chegarem, vocês saberão tudo por si mesmos".
Dessa vez igualmente, eu não me lembro do que aconteceu depois.
A cena muda novamente. Aconteceu-me de entrar num edifício inteiramente novo. Em seu piso, eu podia ver fileiras e mais fileiras de camas, mas nenhuma delas ocupada. Mais tarde, soube que Pranab se achava instalado nessa casa e que a grande sala interior lhe pertencia. Nesse instante, vi-o chegando. Ele vestia um dhoti de seda e estava trajado como um príncipe. Olhando-me apenas de relance, dirigiu-se para seus aposentos. O teto dessa grande sala era muito alto. Num dos lados, apoiado no chão e contra a parede, havia um imenso, belíssimo e fascinante retrato da Mãe, que tocava o teto. Era uma imagem tri-dimensional. Se uma pessoa se pusesse a olhá-lo, sentiria como se a própria Mãe estivesse sentada ali, sorrindo docemente e mirando-a. A pessoa continuaria a olhar para a Mãe e jamais se daria por satisfeita.
Pranab encaminhou-se diretamente para o retrato e fez sashtanga dainvat pranam (ou seja, estendeu todo o seu corpo no solo em sinal de obediência). Com as mãos estendidas à frente e unidas, ele permaneceu nessa postura por cinco minutos. Foi uma grande surpresa para mim presenciar tal coisa! Depois de se levantar, ele ficou olhando fixamente para a Mãe. O sentimento de uma completa auto-entrega estava vividamente expresso em sua face; era algo que poderia despertar em quem o visse uma experiência similar. Em seguida, ele começou a tirar, uma a uma, suas belas e coloridas vestimentas. Só então percebi que o que parecia um dhoti, era na verdade um chundadi, veste colorida muito fina e especial usada para vestir uma deusa.
Ele as tinha vestido como um lungi. Fiz-lhe uma observação: "Toda a sua roupa é muito bonita! Você fica magnífico! Ela assenta-lhe muito bem!"  "Sim", respondeu-me ele, "Gangaram e os outros também disseram o mesmo!"
Depois disso, eu não me lembro de mais nada.
A cena muda pela terceira vez. Vi uma esplêndida construção dourada, extremamente bela e maravilhosa. Uso a palavra "construção", mas não se tratava de um edifício, de um bangalô ou mesmo de um templo. Não sei que palavra usar. Nem o topo nem os lados dela eram visíveis. O caminho que levava até ela, além de muito perigoso, era terrivelmente medonho. Inumeráveis cobras e serpentes moviam-se por toda a parte. Eu podia ver diversas espécies de pássaros e até mesmo de animais entre elas, mas eles não se atacavam. Vi então um majestoso ser de elevada estatura. Todos os animais correram em sua direção e ele deu um amoroso toque em cada um deles. Tendo nas mãos um pequeno prato, ele distribuía comida a todos. Não pude perceber com que tipo de alimento ele os alimentava. Só pude notar que era algo branco e luminoso, de forma redonda. Logo depois da distribuição, todos pareciam estar em estado de recolhimento. Por fim, ele dirigiu a todos um compassivo olhar, deu alguns passos para trás e desapareceu!
Dentre os animais, um lindo coelho branco de olhos dourados e brilhantes saiu e aproximou-se de mim. Chegou bem perto, olhou-me atenta e afetuosamente, e tentou subir por meu corpo. Inclinei-me e acariciei-o com ternura. Ele então pegou-me na extremidade do dhoti com a boca e começou a puxar-me. Eu me deixei levar e o coelho conduziu-me diretamente para a porta daquela bela construção dourada que eu vira à distância. Parecia uma porta, mas eu não conseguia encontrar nenhum meio de abri-la – não podia nem imaginar como alguém poderia fazê-lo para entrar. O coelho deixou-me ali e voltou em seguida com um adorável e magnífico pássaro de extrema beleza, cujo corpo colorido cobria-se de penas multicores. Apresentava certa semelhança com o pavão. Estendendo o bico para a porta, ele tocou-a por toda a parte. A porta abriu-se, e eu pude ver um fogo imenso ardendo no interior! Mas, é estranho dizê-lo, esse fogo não irradiava nenhum calor. Incapaz de mover-me dali, fiquei a contemplar as belas chamas que se elevavam. Era uma visão maravilhosa. O coelho voltou-se novamente para mim e, como antes, tomou-me o dhoti com a boca e puxou-me para dentro do fogo! As chamas, porém, não me queimavam de modo algum. Pelo contrário, eu sentia um frescor delicioso por todo o corpo – por dentro e por fora. Dali, o coelho puxou-me para fora do fogo e conduziu-me ao segundo andar. A sala desse andar estava cheia de uma água branca, brilhante e transparente. Eu não podia compreender como esse líquido podia permanecer naquela sala sem que se escoasse! Era de fato surpreendente. O coelho puxou-me do mesmo modo e levou-me para dentro da água. Assim que entrei nela, a pele exterior de meu corpo deslizou e caiu por si mesma, exatamente como acontece a uma serpente que descarta a velha pele! Ao olhar para ele, percebi que era um corpo de luz branca. O coelho puxou-me para a frente, mas eu não podia mover-me dali.
Meus olhos se abriram. Por algum tempo, eu não pude perceber onde estava e que horas seriam. Pouco a pouco, compreendi que estivera na terra dos sonhos! Todo o meu corpo estava preenchido por uma paz e uma alegria extraordinárias. Não tenho palavras para dizer mais do que isto. Quando olhei para o corpo, vi que ele estava como antes! Pude apenas rir com o jogo da misericordiosa Mãe!


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