VISÕES  DE  CHAMPAKLAL

SONHOS E VISÕES  DE  CHAMPAKLAL

   Havia uma cerimônia organizada pelos meninos e meninas de nossa escola.
Vi um imenso local aberto inundado por uma Luz dourada. Em seu centro, a Mãe e Sri Aurobindo estavam sentados num grande e luminoso trono de ouro, com seus corpos dourados e luminosos. Tudo em volta estava impregnado de sua reluzente luz dourada. 
A certa distância, à direita do trono de ouro, os meninos, meninas e professores, achavam-se todos em meio dessa Luz dourada. Nenhuma diferença havia, quanto à sua postura, entre estudantes e professores.
Após um momento,  vi que eles se dirigiam, um por um, a Sri Aurobindo e à Mãe. Cada qual se colocava diante deles e orava por aquilo que desejava, exprimindo em palavras e com grande sinceridade sua condição interior.
Estavam todos absortos, concentrados, e transmitiam uma impressão de completa auto-entrega. Sua expressão era algo de maravilhoso e marcante. Estando em sua melhor condição, eles passavam, um após outro, com uma expressão de alegre contentamento na face, como se houvessem obtido aquilo que desejavam.
Nirod lá se encontrava, de pé numa das extremidades. Ele não se movia do lugar e mantinha os olhos fixos na Mãe e em Sri Aurobindo. Ele estava abstraído, e sua face era muito expressiva. Meia hora havia transcorrido e ele não se movera. 
Aqueles que já haviam ido até a Mãe e Sri Aurobindo, ficaram parados a observar o que se passava, muito felizes por terem mais tempo de estar com eles. De repente, Nirod pegou de um pedaço de papel e, de pé onde se achava, pôs-se a escrever algo. Ele redigiu um parágrafo e mostrou-mo. Fiquei surpreso ao ver que sua escrita era exatamente igual à de Sri Aurobindo dos primeiros tempos. Ele escrevera apenas um pequeno parágrafo, mas de grande beleza. Dizia respeito à Mãe, a Sri Aurobindo e a sua própria condição interior, expressando-a com grande sinceridade. Era notável.
Pedi-lhe que fosse até Eles e lhes mostrasse aquele seu texto. “Não”, disse ele. Vendo que se negava,  pensei em levá-lo eu mesmo; porém, antes que pudesse fazê-lo, meus olhos se abriram. Tentei recordar-me do que estava escrito, mas não consegui.
Tive este sonho na mesma noite de 2-9-76, em que tive o “Sonho Maravilhoso”, o qual foi publicado no “Mother India” de 24 de Novembro do ano passado.
Eu havia dado o relato de ambos os sonhos a Nirod, mas, como ele não teve nenhum interesse pelo segundo deles, deixei-o de lado. Ao ver porém, em nosso programa do campo de desportes do dia 21 de fevereiro último, cada grupo de estudantes dizendo sua prece, lembrei-me deste sonho e ele voltou-me inteiro diante dos olhos. Achei isto muito interessante.

ASCENSÃO PARA A PAZ, A ALEGRIA E O ANANDA
2-9-1976

   É muito difícil descrever o que vi, mas mesmo assim vou tentar, por ser muito interessante.
Quatro das crianças pequenas do Ashram vieram ver-me e disseram: "Vamos fazer algo, mas nós mesmos não sabemos o que é. Não falamos a ninguém sobre isto. Viemos aqui para levá-lo conosco, mas não chamamos a ninguém mais. Eles estragariam tudo."
Escrevi: "Eu não posso falar." (Devido a um voto de silêncio)
Uma das crianças aproximou-se e disse-me: "Sabemos que não pode falar, você só tem de ir até lá. Queremos que esteja conosco."
Escrevi: "Eu também gostaria muito de ir com vocês."
E todas disseram:  "Sim, sim, sabemos disso; é por isso que viemos."  Tornei a escrever: "Mas, aonde vão me levar?"
As crianças responderam sorridentes: "Nós também não sabemos". E puseram-se a rir.
Um menino muito pequeno aproximou-se e deu um amplo sorriso. Notei que ele acabara de aprender a andar. Ele tomou-me pela mão e, com a outra, fez-me sinal que me levantasse e o acompanhasse. Havia algo de muito bonito em sua expressão e  em seus movimentos. Ele não disse palavra; apenas expressões e sinais. Ele caminhava como se soubesse aonde devia ir.  Perguntei-me:  "O que é isto?". As crianças responderam: "Não sabemos". "Como é possível", pensei. Assim, caminhei em silêncio com elas, até que chegamos a um lugar onde se via apenas  um imenso espaço aberto. Matizados de rosa, o solo e o céu ali eram belos e luminosos. No meio daquele local, outras crianças nos aguardavam. Deviam ser umas quarenta ou cinqüenta, mais ou menos. Assim que as alcançamos, percebi que ficaram muito felizes em ver-me com elas.
Rodeando-me, receberam-me apenas com sorrisos e expressões silenciosas. Nenhuma palavra; estavam todas muito quietas. O menininho que me guiara a esse local, veio até mim e, segurando-me pela mão, começou a conduzir-nos adiante. Depois de muito andarmos, chegamos a outro lugar. Em toda a parte, eu encontrara novos cenários, muito amplos e abertos. Naquele, havia uma gigantesca árvore da "Paciência" a cobrir uma vasta área. Era  tão grande como a Kabirvad (*) – sendo até maior e mais bonita na forma. Alguns ramos tocavam o solo em vários pontos. A árvore estava inundada de luz, e suas flores douradas eram tão grandes quanto a rosa denominada "Auto-Entrega". E cada uma delas brilhava como o sol. O lugar onde estávamos possuía uma coloração rosada e era extremamente belo. Por toda a volta e acima, havia uma luz brilhante de cor azul. Percebi então ao longe, acima e ao redor, contínuos clarões de relâmpago dourado. De pé diante da árvore, eu admirava este belíssimo mundo novo. Foi então que vi, sentados à minha frente, a Mãe e Sri Aurobindo. Mas não pude ver sobre o que se assentavam ou onde apoiavam os pés. Eu só podia ver suas formas douradas e luminosas, a impregnar de luz dourada todo o espaço em volta. É muito difícil colocar em palavras o que vi neles.  Achavam-se no mesmo nível de meus olhos. Olhei para eles: ambos sorriam. Havia uma atmosfera tão cheia de paz e quietude, e ao mesmo tempo tão plena de alegria, que é impossível imaginar!                

 (* Nota: Kabirvad: Figueira da India, chamada Baniano de Kabir, que fica no Gujerat. É uma árvore tão grande, que o seu tronco principal nem sequer pode ser localizado.)

   Estendi as mãos diante deles e fiquei com as palmas abertas. Sobre uma das mãos, vi um grande prato com uma tampa muito escura e fosca, de cor negra. Fiz o possível para retirar a tampa negra repetidas vezes, mas não consegui. Olhei então para a Mãe e para Sri Aurobindo; ambos sorriam maravilhosamente, com grande compaixão, e eu me senti muito próximo deles. Depois disso, tentei novamente erguer a tampa negra. Assim que a toquei, ela desapareceu – não pude ver para onde. Em seguida, vi em seu lugar uma tampa amarela; tentei removê-la também, mas como a primeira, ela  igualmente desapareceu. As tampas começaram a mudar de negro para amarelo, e então para rosa, azul, branco, prata e ouro. E a cada vez, eu tinha de fazer o mesmo movimento para remover a tampa. Ao tocar a tampa dourada ela desapareceu, e, para minha surpresa, vi no prato um luminoso lótus dourado, inteiramente desabrochado. Peguei-o, e no momento em que o fiz, apareceu outra vez, para meu espanto, o mesmo prato coberto por uma tampa negra e fosca. Sem me voltar, passei-o para alguém que estava atrás de mim. Então, olhei para a Mãe e Sri Aurobindo, e ambos estavam sorrindo. Algo veio deles e entrou em mim: comecei então a subir sem cessar, cada vez mais alto. Subitamente parei e não pude ir além. Ao olhar para cima, vi a Mãe e Sri Aurobindo a uma grande altura. Tentei ver onde me achava de pé, mas não foi possível – eu via somente uma luz azul clara, e parecia-me estar de pé sobre ela; era muito suave. Percebi então que alguns movimentos se processavam em todos os meus centros (Chakras), mas sou incapaz de descrevê-los. Ao meu redor e dentro de mim havia Paz, Alegria e Ananda.
Apos um momento, vi uma criancinha de pé ao meu lado, muito feliz e com um luminoso lótus dourado na mão. Agindo de modo espontâneo, exatamente como eu fizera, ela estava a narrar todos os seus momentos de felicidade. Perguntei-lhe se tinha visto o que acontecera quando estávamos lá embaixo, se vira o que eu havia feito. Disse-me que ao se ver atrás de mim, ela não sabia o que lhe havia acontecido. Estava certa de que não estivera dormindo. E concluiu: "Somente quando você me passou o prato, é que minha mão, de repente, estendeu-se em sua direção e apanhou-o. Todos os movimentos eram espontâneos. Ah, foi maravilhoso!" Ela descreveu exatamente aquilo que eu havia experimentado.
Uma após outra, todas as crianças subiram. Extremamente felizes, algumas contavam a mim, outras contavam a suas amigas o que lhes ocorrera. Todas  haviam tido a mesma experiência.
A criancinha que me havia conduzido estava completamente mudada. As outras crianças dançavam e pulavam graciosamente, trazendo nas mãos luminosas e douradas flores de lótus inteiramente desabrochadas. De repente, aquele menininho que não dissera uma só palavra, gritou a toda voz: "Olhem, olhem, olhem lá em cima!" Enquanto dizia isso, vi o rubor tingir-lhe a face.
Olhando para o alto, vimos a Mãe e Sri Aurobindo plenos de glória, tendo ao seu redor uma luz dourada perfeitamente resplandecente; e não havia nada a não ser essa luz dourada. Seus corpos, formados de uma luz exatamente similar, eram os mesmos,  mas ainda assim pareciam diferentes. De lá, uma torrente dessa luz precipitou-se em nossa direção e vimo-nos todos em meio dela. Era muitas vezes mais brilhante que o sol, mas nossos olhos não se ofuscavam com o seu brilho, como acontece quando olhamos para aquele. Era uma luz de natureza tão especial, que se desejaria contemplá-la sem cessar. Uma visão incrivelmente maravilhosa e indescritível. Perguntei  às  crianças:  "E agora, o que devemos fazer?"  Elas disseram a  uma  voz: "Não seria maravilhoso ficar aqui para sempre?”  Não sei o que aconteceu em seguida, pois meus olhos se abriram.
Foi tudo tão real e tão vívido. Ainda vejo tudo isso como se o estivesse vivendo.


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