VISÕES DE CHAMPAKLAL
SONHOS E VISÕES DE CHAMPAKLAL
UMA EXPERIÊNCIA DO OM
6-6-1981
Achava-me sentado e mantinha os olhos fechados; mas não a meditar, apenas sentado. Faço isto com freqüência. Costumo deitar-me também de olhos fechados, por sentir-me bem dessa forma.
EXPERIÊNCIA
Ouvi o som infinito do "OM" vindo de muito longe; apenas uma palavra, "OM", no mesmo ritmo prolongado, de modo contínuo e interminável. Ele parece estar sendo cantado a uma grande distância. Então, o canto começa a soar como se agora se aproximasse mais e mais, até chegar bem perto de mim. Após um momento, parece estar sendo entoado ao meu lado. Logo depois, num breve instante, eu sinto: "Não, não, este som está a elevar-se de dentro de mim!" Então, parece-me que... Oh! não há nada no universo, a não ser este som! Em seguida, todos parecem estar falando somente o Om! O que se pode dizer disto? Pode-se denominar a isto de som ou o quê?
Após despertar, ocorreu-me que, de modo habitual, não é possível acontecer tudo isto ao mesmo tempo; mas que eu ouvi e tive a experiência dessa forma, é também um fato inegável.
Mesmo depois de despertar, havia um sentimento inigualável e indescritível de Ananda, por ter ouvido aquilo e passado por essa experiência impossível.
6 + 6 + 8 + 1 = 21
O número 21 é sagrado e auspicioso.
1- O som está sendo cantado a uma distância muito, muito grande.
2- O som agora parece aproximar-se cada vez mais.
3- O som (a palavra Om) está sendo pronunciado perto de mim.
4- O som está vindo de dentro de mim, está sendo repetido em mim.
5- Em todo o universo não há nenhuma outra existência, exceto
este som; ele é tudo.
6- Todos estão falando somente o Om.
São 6 tipos de experiência acontecendo simultaneamente. A data dessas experiências também é 6.
UMA EXPERIÊNCIA DE ILIMITADO ANANDA
23-12-1981
"Ir com Sri Aurobindo a um ‘Lugar’ em particular, onde havíamos estado antes": tal pensamento surgiu-me na mente. No mesmo instante, um magnífico e luminoso veículo, de um tipo inteiramente novo, apareceu, e eu tomei assento nele. Havia também outras pessoas, mas eu não conhecia a nenhuma delas. O próprio Sri Aurobindo o dirigia. Era uma visão majestosa! O que aconteceu depois disso e como fui deixado sozinho, não sei. Mas eu sabia claramente para onde devia ir. Assim, eu segui em frente e caminhei bastante.
Após cobrir uma longa distância, cheguei a uma localidade onde senti que o "Lugar" que eu procurava se achava próximo. As construções eram primorosas e fascinantes, e tinham uma estrutura inteiramente singular. Mas estavam todas fechadas. Não se via nenhuma pessoa ali. Mais tarde, senti uma fragrância arrebatadora, que emanava da parte superior de uma belíssima casa. Isso deu-me a certeza de que aquele, indubitavelmente, era o "Lugar". De forma espontânea e natural, fui atraído por ela como por um imã e parei à entrada. A porta abriu-se automaticamente. Experimentei a alegria de haver encontrado o lugar de destino. Antes disso, um pensamento momentâneo me atravessara a mente: "Visto que todas as pessoas se foram no veículo, como serei capaz de alcançar aquele "Lugar"?" No entanto, cheguei à visão destinada.
Havia uma fragrante e sublime atmosfera, indicando que um Yajña (sacrifício do fogo) acabara de ser realizado no interior. E recordei-me: sim, sim, foi este certamente o lugar ao qual Sri Aurobindo me trouxe e onde Ele realizou um poderoso Yajña. Enquanto assim refletia, a voz poderosa e, ao mesmo tempo, extremamente doce de Sri Aurobindo ressoou. Isso produziu em mim um imenso Ananda. Sri Aurobindo estava cantando Hinos Védicos. A partir disso, fiquei absolutamente certo de que Ele, na verdade, quisera levar-me até ali e me pedira que viesse.
Então, comecei a percorrer sala após sala; elas possuíam um tipo característico e eram pintadas de cores inigualáveis e radiantes. Não havia nenhuma porta, mas a cada vez que eu seguia em frente, como que guiado desde o interior, instantaneamente a saída se abria muito naturalmente, e dali eu me dirigia a outra sala. Assim, quando cheguei a uma sala, em particular, senti que era um local de adoração. O lugar era fascinante e sua atmosfera simplesmente indescritível! Porém, a voz interior compeliu-me: "Não, não, devo ir mais adiante".
O melodioso canto de Sri Aurobindo, poderoso e cativante, fora ouvido por todo o caminho, e parecia-me que chegaria até Ele a qualquer momento, mas isso não acontecia. O canto ia-se aproximando cada vez mais e, no entanto, as salas iam surgindo continuamente, cada qual excedendo a anterior em beleza e intensidade de atmosfera. Todas elas produziam em mim um determinado efeito, mas eu era incapaz de entender o que se processava, o que estava se passando em meu ser. Em todas as salas, eu sentia uma presença, mas ela permanecia invisível. Por um instante, ocorreu-me um pensamento: "Como seria bom se eu pudesse ficar aqui!" Mas era evidente que uma Força invisível me guiava. Até esse ponto, eu estivera com a impressão de que seguia em frente por conta própria, rumo ao "Lugar" indicado por Sri Aurobindo; porém, um pensamento contrário elevou-se e percebi que isso não era exato. A Força Invisível dirigia-me e por essa Força unicamente eu era atraído sem cessar.
Posteriormente, entrei em outra sala. Ainda que muitíssimo encantado com ela, eu queria seguir adiante. Nessa porém, apesar do meu esforço, a saída não se abria! Como não podia sair e o caminho não se revelava, senti-me muito desconfortável. Então, ocorreu-me: "Isto é apenas um sonho. Ao acordar, eu sairei daqui". Dessa maneira, tentei agitar-me, mas não consegui despertar! Sorri e perguntei-me: "Onde está a causa desta apreensão?"
O esforço por despertar continuou. Eu experimentava desconforto e surpresa. Havia uma consciência dos estados contraditórios de vigília e de sonho existindo simultaneamente. Tornei a rir de mim mesmo por essa inquietude irreal. Eu lutava por despertar, mas era incapaz de fazê-lo. Como resultado, senti um grande sufocamento. Nesse instante, um poder divino entrou em mim. E reunindo toda a minha força, empenhei-me em despertar. Por fim, eu realmente despertei.
Então, vi-me em mais uma sala. Não é possível descrevê-la. Nesse momento, pareceu-me que Sri Aurobindo estava por detrás dela. Senti-me aliviado. Finalmente, depois de fazer-me passar por muitas experiências novas, Ele me trouxera a meu destino. Sentia-me agora ansioso por estar com Ele. Mas, a atmosfera daquela sala não me permitia seguir adiante. Uma espécie de força magnética retinha-me ali. Logo em seguida, de algum lugar surgiu uma tremenda atração e uma Força invisível precipitou-me para a frente.
Agora, já não havia nenhuma outra sala. Penetrei num vasto e esplêndido espaço aberto. Eu podia ver muitos locais distantes, extremamente distantes. Então, todos eles tornaram-se incandescentes, com uma resplandecente luz dourada! Nesse instante, o canto de Sri Aurobindo pareceu-me originar-se de cima, mas de imediato, ouvi Sua voz límpida diante de mim. Isto era certo. De súbito, uma pessoa pegou-me na mão e levou-me em frente. A pessoa permanecia invisível, mas conduzia-me adiante sem cessar. Embora ela me segurasse fortemente, o toque de sua mão era muitíssimo suave e afetuoso! Por meio de seu toque, um fluído transparente começou a circular em mim, da cabeça aos pés e dos pés à cabeça, e espalhou-se por toda a parte, em cada átomo do corpo. A princípio, esse fluído possuía uma só cor. Em seguida, sua cor começou a transmudar-se em diferentes cores. Mas a rapidez com que as cores se alternavam era tão fantástica que ultrapassa toda descrição. Que posso então escrever sobre isto? Por fim, um fluído dourado, transparente e radiante percorreu-me todo o ser e ocupou-me por inteiro. Quando meu corpo se achava completamente preenchido, ele passou a irradiar luz. Os próprios membros começaram a desaparecer, um após outro, e não restou nenhum sinal do corpo. Havia apenas luz em seu lugar. Depois, até mesmo essa percepção cessou, e havia tão somente um ilimitado Ananda.
Meus olhos se abriram.
Em 23 de Dezembro de 1981, pela manhã, enquanto me encontrava deitado com os olhos fechados, em beatífica contemplação, este lindo sonho-experiência foi vivenciado.
UM MAGNÍFICO E MÍSTICO DARSHAN
13-7-1984
Eu estava com a Mãe em um lugar extremamente belo e fascinante; era um lugar etéreo e futurista. Simplesmente não existem palavras para descrever-lhe a singularidade. Sou obrigado a usar a palavra "lugar" por não poder pensar em nenhuma outra. Luzes maravilhosas, indescritíveis, alternavam-se continuamente. Parecíamos estar no meio de uma luz dourada. E essa luz dourada possuía uma radiância inteiramente diferente da de qualquer outra na terra. Eu podia até mesmo senti-la tocando-me o corpo.
Sri Aurobindo também era visto ali, em seu corpo dourado e luminoso: um corpo transparente, radiante e inteiramente novo. Um após outro, todos faziam pranampara Sri Aurobindo. De onde eles vinham e para onde iam, não é possível sequer imaginar. Eles surgiam, faziam pranam e desapareciam! Todos realizavam o pranam de maneiras diferentes e peculiares. Alguns faziam um simples pranam, outros o "sashtang" pranam (com todo o corpo); e outros, após o "sashtang" pranam, ficavam de pé e giravam várias vezes no mesmo lugar; depois disso, juntavam as mãos e permaneciam imóveis. Alguns estendiam as mãos unidas para o alto e para baixo e pronunciavam alguma coisa. Suas vozes, embora bastante audíveis, não eram inteligíveis. Não se podia saber que língua falavam.
Uma pessoa surgiu e, de pé sobre uma só perna, começou a girar, estendeu os braços para cima e para baixo, fez pranam e desapareceu! Uma outra entrou, executou uma variedade de Mudras, transformou-se numa criança e em seguida desapareceu! Algumas fechavam os olhos, enquanto outras os deixavam abertos. A pessoa que vi aparecer por último era cristalina; ela realizou a "Pradakshina" (circulando ao redor) de Sri Aurobindo, e após ter feito "sashtang" pranam, pôs-se de pé; erguendo as mãos em saudação, cantou o "Om" com uma voz contínua e prolongada, uma voz que parecia fender os céus, mas extremamente doce. Numa nota uniforme, a pessoa continuou a prolongar esta única Palavra. Por todo esse tempo, viu-se no espaço uma variedade de belas cores, esplêndidas e reluzentes. Por fim, uma cintilante luz dourada começou a descer lentamente. Essa pessoa desapareceu de modo diferente, expandindo-se e ampliando-se em todas as direções e, finalmente, tornando-se imperceptível. Dali por diante, o "Om" foi ouvido intermitentemente, numa melodiosa música semelhante à da Mãe. A música prosseguiu por longo tempo. No fim, somente o "Om" era ouvido, num canto único.
Contemplando todas essas visões, eu ficara fascinado e enfeitiçado! Então, ouvi o chamado extremamente doce e magnético da Mãe: "Champaklal!" A Mãe apareceu diante de mim numa forma inteiramente nova e belíssima, e pôs a mão direita sobre o meu ombro esquerdo. Em seguida, colocou ambas as mãos sobre meus ombros. Depois, pousou-as sobre minha cabeça e acariciou-me a fronte horizontalmente. Então, com grande ternura, cobriu-me os olhos com as palmas das mãos. Feito o que, acariciou-me todo o corpo, da cabeça aos pés, e de baixo até em cima. Tornei-me interiorizado. Permaneci, no entanto, totalmente consciente. Eu podia até mesmo ver tudo o que se passava ao redor. Fiquei de pé e imóvel por longo tempo.
E outra vez, uma nota suave foi ouvida: "Champaklal! Champaklal! Champaklal! Venha!" E tomando-me pela mão, Ela conduziu-me adiante. Quando a Mãe apareceu, eu via Sri Aurobindo a uma pequena distância, a qual permaneceu constante. Senti que me elevava cada vez mais. Sri Aurobindo também era visível da mesma forma e à mesma distância. Apos haver ascendido a uma grande altura, Ele deixara de ser visível. Não pude recordar quando, exatamente, O perdi de vista.
Eu subia sem cessar, e ao alcançar uma grande altitude, contemplei um vasto sol dourado, extremamente luminoso e radiante, estendendo-se por todo o espaço. Ele também se achava a uma pequena distância, que permaneceu sempre a mesma. Experimentei um calor intenso, e senti como se meu corpo fosse queimar imediatamente até as cinzas. Mas, quando a Mãe, segurando-me pela mão, disse: "Champaklal! Agora, sente-se aqui", e manteve as mãos sobre minha cabeça, nesse mesmo instante senti uma paz extraordinária, acompanhada de um agradável frescor por todo o corpo. E mais uma vez, Ela dirigiu-se a mim: "Champaklal, agora você deve permanecer apenas aqui, tranqüilamente. Não abra os olhos. Você os abrirá somente ao sentir o toque de minhas mãos sobre eles. Nem mesmo tente abri-los, pois, ainda que se esforce, não se abrirão! Portanto, sente-se e fique calmo, aconteça o que acontecer. A meu próprio tempo, virei". De imediato, todo o meu corpo passou por uma poderosa transformação. É impossível expressar em palavras tudo o que aconteceu. Não faço idéia de quanto tempo fiquei ali sentado.
Um suave toque abriu-me os olhos. Não havia limites para o meu deleite! Eu experimentava ananda, ananda, ananda, num êxtase celestial! Encontrava-me bem diante daquele augusto sol, que estivera até então a alguma distância. Segurando-me pela mão, a Mãe conduziu-me diretamente para dentro desse deslumbrante e resplandecente sol, que irradiava um etéreo frescor. Lá, eu tive o Darshan de Sri Aurobindo em Sua nova e luminosa forma. Mantendo-me seguro pela mão, a Mãe levou-me direto para Sri Aurobindo. Ele dirigiu-me um afetuoso olhar e, com Sua doce voz familiar, chamou-me: "Champaklal!" E no instante seguinte, deitei a cabeça espontaneamente sobre o Seu regaço. Ele afagou-a carinhosamente com Suas mãos suaves e sedosas. Apos tê-lo feito, ergueu-a. Levantei-me da forma que me é natural e costumeira, e pus-me de pé diante d'Ele. Mas, em vez de Sri Aurobindo, vi a Mãe no mesmo lugar! Após um momento, tive novamente o Darshan de Sri Aurobindo! Cheio de assombro, fiquei paralisado! Então, o Darshan de um corpo que era "dois-em-um", deixou-me estupefato. Foi um Darshan transcendental! Tenho usado a palavra "corpo" por não ter nenhuma outra apropriada. Seu corpo não era semelhante ao que eles possuíam em Sua forma física. Era uma forma radiante, esplendorosa, transluzente e indescritível. Que Darshan Superno e Sobrenatural!
Champaklal, na forma de um lindo bebê, foi visto deitado sobre o Seu regaço, a brincar e deleitar-se alegremente. O Seu fulgurante e complacente olhar, cheio de afeto e sorridente, fixou-se nos olhos de Champaklal. Acariciando-lhe todo o corpo com as mãos, num gesto de benção, lenta e gentilmente Eles o ergueram e apertaram carinhosamente contra o Seu poderoso e radiante peito. Era como se Eles o houvessem fundido em Si e, desse modo, tornado Champaklal, na verdade, muitíssimo abençoado. Que ilimitada beatitude!
A visão terminou, mas o seu impacto permanece. Embora eu a tenha formulado em palavras, muito dela está além da expressão.
O dia 13-7-1984 foi o puro e sagrado dia do Guru Purnima (lua cheia), um dia venturoso e extremamente auspicioso.
Em Bharuch, no bangalô do irmão de Kamalaben, a quem a Mãe deu o nome de "Kripa" (Graça).
Nesse lugar, a Graça desceu também sobre Champaklal.
UMA MENSAGEM DA MÃE
20-2-1985
A Mãe e Sri Aurobindo concederam-me um Darshan em sonho no dia 20 de Fevereiro de 1985. A Mãe ria às gargalhadas. Vendo isto, Sri Aurobindo olhava para mim e em seguida para a Mãe, com um alegre sorriso. Que riso delicioso aquele! A Mãe olhava-me com amorosa afeição. Era uma visão extraordinária! Então, Ela exclamou: "Champaklal, bravo! Bravo! Bravo! Mas é desse modo? Que é que você está fazendo? Você não escreveu sobre nós (e nosso modo de trabalhar) em seu livro? Tudo lhe foi mostrado. Você compreendeu igualmente bem... Por que então está reagindo dessa maneira?" Ouvindo tais palavras, Sri Aurobindo desatou a rir. Normalmente, Ele sorria de modo suave, mas dessa vez pôs-se a rir com gosto, da mesma maneira que a Mãe costumava fazer muitos anos antes. Hoje, depois de muito tempo, tive o raro privilégio de testemunhar a animada jovialidade de ambos. Um magnífico espetáculo, de fato!
Então a Mãe recordou-me: "Champaklal, você não via que eu freqüentemente trabalhava o dia todo sem me alimentar de forma alguma? O tempo todo era gasto a receber pessoas. E isto também, de que modo! Que tipo de pessoas eu era obrigada a ver e o que, e quanto, tinha de suportar! Pouquíssimas pessoas sabem disso. Mas você esteve presente todo o tempo. Mantive-o com um propósito. Quando eu ia informar Sri Aurobindo dos acontecimentos do dia, geralmente você também estava presente. Esqueceu-se de tudo isto?"
"Você não percebe que deve trabalhar como eu? Não pode sequer perceber de que modo eu altero suas circunstâncias e também os programas que elabora, e os arranjo novamente? Por você dar importância ao que terá de suportar encontrando outras pessoas, e desejar parar de sair, para retirar-se completamente, sou compelida a reorganizar seu meio-ambiente. E mesmo assim você não compreende? Você ainda tem de continuar trabalhando, e trabalhando cada vez mais.
Au revoir...Champaklal...Au revoir!"
Despedindo-se e sorrindo docemente, a Mãe partiu.
Então, Sri Aurobindo sorriu-me gentilmente e perguntou-me: "Champaklal, você compreendeu? Você percebeu o que a Mãe lhe disse?" Tendo dito isto, Sri Aurobindo deu uma grande risada e meus olhos se abriram! Um riso hilariante! Posso vê-lo claramente, mesmo agora.
O aniversário da Mãe trouxe uma grande benção para Champaklal.
21-2-1985
Depois deste sonho, a Mãe fez-me recordar um dos incidentes ocorridos no passado. Ela e Sri Aurobindo moravam nessa época na Casa de Meditação. Os novos aposentos da Mãe na parte de cima ainda não tinham sido construídos. Subindo a escada da Casa de Meditação, há uma passagem na qual uma grande foto da Mãe era colocada em dias de Darshan. Nessa pequena passagem, a Mãe costumava pedir-me que esperasse, de modo que, em havendo necessidade, Ela pudesse chamar-me. O lado direito dessa passagem era mantido fechado. Era nesse momento que a Mãe relatava a Sri Aurobindo as experiências de sua própria sadhana, assim como todos os assuntos pessoais dos sadhaks e sadhikas. Devido ao fato de falar em voz alta, mesmo com a porta divisória fechada, tudo podia ser ouvido, por causa do espaço aberto no alto. Durante esse tempo, eu sempre ficava num verdadeiro dilema. Deveria permanecer ali ou sair? Tais eram as coisas que se ouviam, que nenhuma pessoa deveria estar presente. Mas, desde que fora a própria Mãe quem me instruíra a ficar lá, como poderia eu ir embora? E se Ela precisasse de mim e me chamasse? Este o motivo de dizer que me via numa situação embaraçosa.
UMA VISÃO DO FAMOSO ARTISTA FRANCÊS (MONET)
2-6-1985
Sempre que visito belos lugares, bem como locais que possuam uma grandiosidade natural, ponho-me a contemplá-los com grande admiração, e sinto-me igualmente inclinado a fechar simplesmente os olhos e deitar-me. Hoje, eu não pude controlar essa minha tendência e, hesitantemente, estendi-me sobre o amplo gramado.
Tão logo fechei os olhos, iniciou-se um chuvisqueiro. Era uma extraordinária chuva de cor dourada. Ela tocava-me o corpo como se me banhasse nela. Mas sua característica mais singular era que ela não o molhava. Eu sentia o fluído dourado penetrando-me e fluindo por toda a parte no interior; como resultado, eu via tão somente uma luz dourada dentro do corpo. Então, esta cena terminou.
As árvores do jardim tornaram-se luminosas, e entre aquelas cujos ramos pendiam como trepadeiras, percebi uma que se estendia lentamente para o alto. Gradualmente, ela elevou-se a uma grande altura, de modo que a sua copa já não podia ser vista! Nesse meio tempo, vi um Ser encantador que, com um doce e meigo sorriso, acariciava amorosamente os ramos que pendiam e planava suavemente em direção ao solo. Depois de descer, aquele Ser aproximou-se de mim e começou a esfregar-me todo o corpo com ambas as mãos. Eu me sentia muito bem e assim continuei deitado. Então, abrindo-me a boca, esse Ser derramou nela um líquido branco e luminoso, e pôs-me algo sobre a língua. Em seguida, vi-me do seu lado. E ele disse-me: "Você deve acompanhar-me. Sri Aurobindo deu-me a seguinte instrução: ‘Você deve descer. Meu Champaklal chegou. Eu providenciei sua vinda. Você também ficará contente em ir a sua própria casa’". O Ser acrescentou: "Sri Aurobindo parecia estar muito contente ao dizer isto. Eu nunca o tinha visto tão feliz antes, embora o tenha visto demonstrando satisfação muitas vezes, sem nada dizer. Ele estava tão alegre, que não tenho palavras para descrever. Portanto, venha! Você não precisa fazer nada. Fique exatamente como está e observe o que acontece. Você não deve fazer nenhuma pergunta. Não fale nada, também". Então, começamos a subir cada vez mais, para além daqueles ramos pendentes. Por fim, aquele magnífico Ser parou.
Ali, experimentei uma luz dourada que se irradiava continuamente do alto. Havia muitas pessoas -- pequenas e grandes. Algumas se moviam por ali, e várias delas pareciam estar fazendo alguma coisa, mas achava-se tudo muito enevoado. Eu não podia ver as coisas de modo claro o bastante para perceber os detalhes. Então, esse majestoso Ser ordenou-me: "Espere somente aqui. Não se mova daqui, nem mesmo uma polegada. Voltarei logo". Em seu retorno, ele conduziu-me a uma casa e explicou-me: "Esta é a minha residência. Aqui também não faça perguntas. Tente compreender por si mesmo o que puder. Aqui vou mostrar-lhe minhas pinturas. Antes disso, deixe-me dizer-lhe algo. Mas depois, nenhuma indagação de sua parte. Depois de lhe mostrar tudo, eu o levarei a Sri Aurobindo.
"Por longo tempo, repousei numa condição do que se pode chamar de sono profundo. Mas não era ‘sono’ como na terra. Você compreenderá somente quando vier a experimentá-lo pessoalmente. Eu não tinha nenhuma intenção de sair desse ‘sono’. Porém, Sri Aurobindo despertou-me a seu próprio modo e recomendou-me: ‘Agora, você tem duas coisas a fazer. Primeiro, há na terra muitas crianças que me pertencem, mas somente algumas delas estão em busca de minha luz. Destas, apenas umas poucas sabem o que é a minha luz. Por estas crianças você não precisa fazer nada. Quanto àquelas que estão buscando uma nova luz, você deve guiá-las, permanecendo apenas aqui, da mesma maneira como eu o ajudei a pintar. Eu próprio estou realizando este trabalho. Quando for à terra, você o verá em diversos lugares’." Em seguida, aquela forma fascinante dirigiu-se novamente a mim: "Venha, agora vou mostrar-lhe minhas pinturas. Tente compreendê-las tão bem quanto puder, de acordo com a sua própria capacidade. Mas não faça nenhuma pergunta". Vendo algumas das pinturas, fiquei simplesmente tomado de alegria e despertei. Alguém me dizia: "Não é permitido sentar-se na grama". Estava claro para mim que eu não devia ver mais – isso havia ocorrido como pretexto.
Mais tarde, vim a saber que a imponente pessoa vista por mim, era o famoso pintor francês Claude Monet. Fui informado também de sua especial predileção pelas várias árvores que observei na visão. Essas árvores podem ser vistas em muitas das pinturas ali existentes. Soube que Monet adorava jardins, e que, pondo ele próprio mãos à obra, criou alguns muito bonitos. Mas, o que em geral ocorre, deu-se também no caso desse artista. Depois dele, aqueles aprazíveis locais não duraram. Todavia, algumas pessoas realizaram uma excelente experiência, e criaram, pela observação minuciosa de suas pinturas, lindos jardins como os que havia em seu tempo.
*
A razão de haver escrito "não pude controlar essa minha tendência", é que quando me deito em tais lugares, alguém me pergunta: "Dada, você está cansado?" É por isso que faço o possível para evitá-lo.
A MÃE SOBRE O LÓTUS DOURADO
Uma visão em Paris
1985
A doce e amorosa voz da Mãe é ouvida, mas ela não é visível. Olho em volta ansioso, mas ela ainda não pode ser vista. Fico impaciente por vê-la. E ela me diz: "Champaklal, primeiro ouça-me em silêncio. No início, quando você começou a trabalhar comigo, eu não via ninguém; por este motivo, eu tinha muito tempo disponível e nós podíamos trabalhar juntos. Naqueles dias, eu lhe contava muitas coisas sobre Paris e seus artistas. Agora, eu trouxe você e Kamala aqui, a Paris. Observe o máximo que puder; o que você não pôde compreender naquela época, tornar-se-á claro de imediato ao ser visto". Fiquei mais ansioso por vê-la e pus-me a chamá-la: "Mãe, Mãe, Mãe..." Nesse momento, tudo se me tornou cheio de paz no interior, e experimentei uma abundante alegria chamando "Mãe". Desejando apenas que a Mãe me mantenha, de agora em diante e para sempre, nesse mesmo estado de paz, o meu chamado cessa por si mesmo.
Em seguida, não vejo nada mais exceto uma luz branco-dourada. Luz branca! Então, vê-se uma luz azul-dourada. As cores da luz que vi mais tarde, não as pude identificar. Um fascinante panorama colorido e muito luminoso é visto em todas as direções, panorama este que eu não queria parar de contemplar. Nesse meio tempo, começa a chover torrencialmente; vê-se tão somente água por toda a parte. A cor da água é de um belo e claro azul celeste. A chuva cessa. Vejo então na água um imenso lótus dourado em meio a uma linda cor azul. A Mãe, com seu corpo divino e luminoso, está sentada sobre o lótus. Vejo Kiranbhai prosternar-se diante dela.
Há também algumas pessoas sentadas ao redor. Não se pode ver claramente o que está acontecendo ali. Torno-me muito ansioso por ver, mas não posso. (Hoje compreendo a verdadeira experiência de ansiedade). Então, a cena muda.
Uma Luz branca desce sobre toda Paris. Não se vê nada, a não ser luz. Nesse momento, vejo Sri Aurobindo de pé diante de mim, em seu dourado e luminoso corpo divino. Ele cobre-me os olhos com suas mãos suaves e pede-me que diga algo. Digo alguma coisa, mas não sei o que; era algo muito considerável naquele momento. Ele retira suas bem-aventuradas mãos de meus olhos. Abro-os e vejo diversas pessoas indo de um lado para o outro, a realizar vários tipos de movimentos, algumas pulando, outras dando saltos mortais, umas a dançar, outras a contorcer os membros, e assim por diante. Observo também jovens garotos e garotas caminhando por ali e divertindo-se de muitas maneiras diferentes. E no entanto, não se pode compreender o que está acontecendo. A luz branca torna a descer. Luz, Luz, Luz por toda a parte; nada exceto Luz. Então, uma atmosfera colorida preenche as quatro direções. (Há uma atmosfera multicolorida em toda a parte). Começa a chuviscar. Ao mesmo tempo, algo parece estar descendo das alturas, mas não se pode identificar o que seja. Em seguida, só se vê água por toda a parte.
No meio dela, vê-se um luminoso lótus dourado matizado de azul. No centro do lótus, a Mãe está sentada, com seu luminoso corpo branco-dourado. Do corpo da Mãe, assim como do lótus, raios de luz de várias cores irradiam-se continuamente em todas as direções. As bem-aventuradas mãos da Mãe estão estendidas e movendo-se por toda a volta. Ela também é vista, do mesmo modo, em todos os lugares, abençoando a todos com suas benditas mãos. É uma cena belíssima, fascinante e indescritível!
Então, o lótus começa a expandir-se paulatinamente, numa velocidade que não é sequer perceptível. Por fim, ele se torna tão vasto que parece não ter limites. É a mesma visão ilimitada em todas as direções. A luz que se espalhava por toda a atmosfera, suave a princípio como os raios do sol nascente, tornara-se agora intensa como a luz do sol do meio-dia. E meus olhos se abriram. Que visão divina e extraordinária!
UM MAGNÍFICO E CELESTIAL DARSHAN NO MATRIMANDIR
7-1-1986
Na ocasião, minha perna direita não se achava em boas condições. Mas é assim que tenho me sentido constantemente; à medida que passo de um estado de ser para outro, torno-me consciente de que a presente condição não é boa.
O carro foi conduzido até a entrada do Matrimandir. Dali eu tive de caminhar um pouco para chegar até ele. Embora a distância não fosse grande, precisei sentar-me um pouco no meio do caminho. Cinco minutos de descanso sempre me revigoram. Após relaxar por alguns minutos, prossegui, confiando unicamente na Força de nossa misericordiosa Mãe. Na verdade, subir as muitas escadas do Matrimandir, foi um ato corajoso de minha parte. Daí a minha consideração: "confiando unicamente na Força de nossa misericordiosa Mãe", pois só Ela tem vindo em meu auxílio em numerosas ocasiões, sempre que tais situações se me apresentam. Agora igualmente, apenas a Mãe tornou-me possível alcançar o Matrimandir.
O DARSHAN
Assim que entrei, Ela saturou-me. Penetrei em um mundo totalmente diferente. Eu tinha de esforçar-me por manter os olhos abertos. Por fim, eles se fecharam. Todo o Matrimandir parecia estar girando, por todos os lados. Então, abri os olhos e vi que o Matrimandir estava imóvel, mas assim que os fechei de novo, ele parecia estar se movendo e girando como antes. Tornei a abri-los e vi que ele estava perfeitamente estável. Isto aconteceu três vezes. Na verdade, não me lembro de quando parou de se mover. Mais tarde, ele começou a girar lentamente como um carrossel. De repente, passou a girar muito rápido. Então, o seu ritmo diminuiu e ele começou a mergulhar profundamente num abismo. Por fim, quando ficou imóvel, contemplei um ser maravilhoso. Assim que ele tocou o Matrimandir, não sei o que aconteceu, mas senti que estava de volta ao meu lugar original no interior da estrutura.
Agora, as paredes do Matrimandir eram transparentes e luminosas. Então, pouco a pouco, elas começaram a intercambiar suas cores por diversas vezes. Por fim, elas adquiriram uma brilhante, resplandecente e translúcida cor dourada. Eu podia ver claramente os objetos mais distantes em toda a volta, e tudo numa única visão expandida. Era uma visão fantástica! Ao redor do Matrimandir, até uma certa distância, havia belas e diferentes espécies de plantas floridas de variado colorido, luminosas, fascinantes e nunca vistas. Atrás delas, erguiam-se numerosas árvores de diversas espécies, muitas das quais adornadas com lindas e cintilantes florescências, enquanto outras possuíam luminosas cores. Além delas, muito ao longe, vi um vasto espaço aberto no meio do qual brilhava um belo, radiante e magnífico trono, de soberbo acabamento artístico e com um esplendor dourado. À sua direita, sentavam-se crianças, mulheres, homens e pessoas idosas de diversos países. Mas à sua esquerda, havia uma cena inaudita de muitas espécies de animais e pássaros do céu e da terra. Todos os animais, tanto os mansos como os ferozes, estavam juntos ali, muitos dos quais desconhecidos. Numerosíssimos eram os filhotes. Mais além, via-se, de um lado, um amplo e sereno lago onde floresciam lótus de muitas cores, inclusive cintilantes lótus dourados e prateados, os quais eram fascinantes. E do lado oposto, outro grande lago semelhante ao primeiro, com criaturas aquáticas e objetos. Viam-se bonitos peixes e crocodilos de diversas cores. A água era tão transparente que todas as espécies de riquezas, quais pérolas, rubis, esmeraldas, corais, cascos, conchas, bonitas plantas, ervas e muitas outras coisas preciosas, eram percebidas simultaneamente, de modo vívido e distinto, numa única visão extensiva! Não seria possível vê-las à vista desarmada. Como escrever sobre tudo isto?
Para lá dos lagos, elevava-se uma árvore colossal, cujos limites, da copa e dos lados, não podiam ser divisados. Seus ramos tocavam o solo, e cada folha emitia continuamente luz de várias cores. A árvore toda estava repleta de flores coloridas que se assemelhavam ao lótus, incluindo-se prateadas e douradas. Essas flores reluzentes eram tão fascinantes que eu não desejava parar de contemplá-las. Fiquei enfeitiçado por longo tempo com essa visão encantada. Alem da árvore, viam-se multicoloridas montanhas, a irradiar uma luz resplandecente. Os cumes de muitas delas não eram visíveis. Nesse lugar, vi algumas pessoas movendo-se de um lado para o outro, entre as quais havia crianças, mulheres e pessoas idosas. E espalhadas por diversos locais, nas planícies e nas montanhas, havia belas casas de diferentes tipos, cuja arquitetura e cuja construção eram incomuns e originais. Enquanto escrevo, dou-me conta de que não é possível ver tanta coisa ao mesmo tempo, mas a Graça infinita tornou possível o que era impossível. Sempre que reflito: "Eu jamais poderia ter visto isso!", era exatamente assim que me sentia naquele momento.
Voltei os olhos novamente para o trono, e vi uma luz dourada a irradiar-se dele de modo contínuo. Pareceu-me ser a Mãe, com Seu translúcido corpo dourado, quem se achava sentada nele. Em seguida, tive a impressão de que era Sri Aurobindo quem o ocupava. Na transição entre um e outro, tive a incrível visão do corpo dos dois-em-um. Parecia ser um corpo transparente, mas eu não podia compreender como ele era por dentro.
A meditação teve início. A própria Mãe estava cantando. Uma música instrumental era ouvida, mas não se podia perceber de onde vinham as notas, ou qual era o instrumento musical. A voz da Mãe era extremamente doce e melodiosa, e induzia de forma espontânea à concentração. Era uma atmosfera cheia de paz, alegria e enlevo. Enquanto durou tudo isso, eu tinha consciência de estar num grandioso mundo novo. A meditação prosseguiu por um bom tempo. Então, vi algo maravilhoso!
A Mãe e Sri Aurobindo, juntos em um só corpo, achavam-se simultaneamente diante de cada uma das pessoas e, num gesto de benção, manifestavam com sua mão direita a graça e o amor. Que cena de indescritível maravilha e beatitude! Tudo se fez silencioso e tranqüilo. Subitamente, ouviu-se uma ensurdecedora e retumbante concha da vitória. Ao mesmo tempo, vi as crianças maravilhadas, porque os seus corpos físicos estavam passando, lenta e gradativamente, por uma transformação, e elas se tornaram jovens. As pessoas jovens tornaram-se fortes e bem constituídas, enquanto as idosas se transformaram em pessoas ainda na primeira juventude. Os animais e os pássaros foram libertos de suas linhas genéticas e eram vistos em belas e diferentes formas. Nesse momento, começou a chuviscar e, logo em seguida, a chover torrencialmente. O mais singular nesse fenômeno, era que chovia em muitas e variadas cores, e por fim, em prata e ouro! Tal visão era igualmente fascinante. Eventualmente, a chuva cessou, e via-se apenas uma luz dourada em toda a parte.
De repente, minha visão dirigiu-se para a parte superior do Matrimandir, e contemplei um flamejante, glorioso e arrebatador sol dourado a cobrir todo o firmamento! Ao invés de calor, ele irradiava luz dourada e um delicioso frescor. Tornei a olhar para o trono e vi a todos (homens, mulheres, crianças, pássaros e animais) em atitude de adoração, numa postura de Namaskar (as mãos unidas em obediência). A maravilha desse momento trouxe-me uma nova experiência. Era um espetáculo incomparável. Parecia-me que tudo se tornara dourado. Imediatamente, uma cascata de luz dourada derramou-se do céu sobre o Matrimandir. Nesse instante, tive a sensação de que várias pessoas se achavam sentadas próximas, mas não podia vê-las claramente. Eu tinha a impressão de que a luz dourada se derramava sobre todas elas e infundia-se em seu interior. A sala toda estava preenchida pela luz dourada. Súbito, vi a mão abençoada de Sri Aurobindo e da Mãe, acariciando não apenas a minha cabeça, mas a de cada uma daquelas pessoas. Tudo se inundou de paz. E mais uma vez, uma doce melodia foi ouvida. Meus olhos se abriram. É simplesmente impossível formular em palavras o impacto do momento sobre o meu corpo. Enquanto escrevo isto, surge-me na mente a dourada Lanka do Ramayana.
Ao descer do Matrimandir, saturado de Paz, Ananda, Amor e Alegria, um operário pôs-me nas mãos uma foto ampliada, 20x24, do Matrimandir. Isto me pareceu muito interessante. Era uma foto do Matrimandir em cor dourada. Um outro deu-me também várias outras fotos do Matrimandir.
Vitória, Vitória, Vitória à Mãe!
VISÃO SIMBÓLICA NO ESTADO DE VIGÍLIA
25-6-1986
Eu estava sentado em silêncio, e havia uma brisa suave ao redor. (Kamalaben e eu estávamos sentados num degrau). O meu lugar começou a mover-se lentamente e, em seguida, pôs-se a correr como um trem veloz. E manteve-se correndo sem cessar. Semelhante ao que se vê de um trem veloz em movimento, eu contemplava a beleza da natureza. Nesse momento, achava-me totalmente desperto. Se abria os olhos, a visão desaparecia! Se os fechava, o trem veloz partia novamente. Divertia-me com isso da mesma maneira que uma criança o faria. Isto é interessante -- mas apenas para mim -- não para os demais; estes nem sequer compreenderiam. Poderiam achar que era apenas imaginação.
Algo similar havia acontecido no monte Shankaracharya. Estávamos de pé e o monte pôs-se em movimento.
Numa segunda ocasião, o samadhi de Dilipda também começou a mover-se.
Hoje, a mesma coisa acontecia pela terceira vez, mas havia uma diferença.
No instante em que eu abria os olhos, tudo era paralisado. Se os fechava, o trem veloz (postal) começava a andar. Experimentei fazê-lo por três ou quatro vezes. Então, achei que devia ir, pois estavam todos esperando (por mim), e não se podia prever quando isso terminaria. O surpreendente era que me achava absolutamente desperto. Eu queria ver como e quando essa visão terminaria, mas as circunstâncias eram diferentes.
Agora, quem se interessará por isto? Sim, se alguém o experimentasse, certamente se deleitaria com a experiência.
Parece-me agora que, de certo modo, isto também é indicativo. A princípio, tomei-a por diversão, mas agora compreendo.
O mais interessante é que, a não ser nós dois (Kamalaben e eu), ninguém mais se encontrava ali; estando sentados no degrau mais baixo, a Mãe fez com que nosso assento corresse como um trem veloz. Ela estava a dizer-nos: "Vejam, eu os estou conduzindo a ambos com a velocidade de um trem expresso". Eu podia ver tudo inteiramente desperto; isto também é significativo. Após a experiência dessa visão, eu disse a Kamalaben: "Os outros podem não ver. E como eu, você também perceberá mais tarde como a Mãe a está conduzindo. Eu lhe disse várias vezes que a Mãe está nos conduzindo como em um trem veloz". Hoje, isto me foi mostrado simbolicamente.
Nossa bondosa e compassiva Mãe revelou-me ontem esta visão; no começo, considerei-a como uma espécie de brincadeira da Mãe. Mas, afinal de contas, só Ela concede a sabedoria: "Esta visão não foi uma simples brincadeira. É um símbolo de como o estou conduzindo. Assim como você se tornou inteirado e consciente de minha missão (direção), da mesma maneira, tentei mostrar-lhe uma visão simbólica no estado de vigília".
Às vezes, quando a Mãe fala invisivelmente, apenas sua voz é claramente audível. Raramente Ela aparece nos sonhos e fala; não foi assim dessa vez. Isto foi somente o meu entendimento, o qual foi corroborado mais tarde. Tudo isto é muito longo para narrar e muito pessoal também.
O VIRAT PURUSHA DOURADO
1-1-1987
Isto não é um sonho e nem mesmo uma visão. A questão é: como deverei denominá-lo? É extremamente difícil colocá-lo em palavras. Todavia, vou fazer uma tentativa, pois isto proporciona-me um grande deleite. É por isso que me esforcei para escrever. Eu diria mesmo que não posso evitar de fazê-lo.
Aconteceu-me de ir a um lugar totalmente estranho e inimaginável. Nem mesmo sei como fiz para chegar ali. E não estou ciente também de tudo o que se passou. Não é algo que se possa descrever resumidamente.
Minha própria existência foi esquecida. "Quem sou eu? De onde vim?" Eu era incapaz de recordar-me de tudo isto. Pouco a pouco, comecei a olhar em volta, e pareceu-me estar no Quarto de Sri Aurobindo. Mas o Quarto parecia inteiramente diferente. Ele não tinha nenhuma porta ou janela, e nem mesmo uma entrada. Ponderei: "Como fiz para chegar aqui?", mas não pude lembrar-me de nada. Aquela sala era absolutamente estranha. É preciso dar-lhe um nome, por isso a chamei de "sala". À exceção da reluzente luz dourada, não se via mais nada ali. Mais tarde, um certo tipo de melodia tornou-se audível. Ouvindo-a, tornei-me calmo e silente, ansioso por ir em direção à fonte daquela melodia. De lá, eu sentia vir uma tremenda atração. Mas de onde fluía aquela cadência? De cima, de baixo, do ambiente em volta, de toda a parte -- de onde provinha? Eu não conseguia descobrir. Que som extremamente doce, musical e agradável aos ouvidos era aquele!
O tom do mantra foi-se tornando cada vez mais alto. Sua característica mais incrível era que, embora eu achasse haver compreendido tudo, no fim percebia que não compreendera nada. Que contradição! Tudo parecia tão estranho e, no entanto, tão natural! Então, as notas começaram a entrar-me no corpo. Assim que penetravam em cada célula do corpo, aqueles sons transformavam-se numa variedade de cores. E que cores luminosas, reluzentes e fascinantes! Todas elas giravam de cima até embaixo e de baixo até em cima, com grande velocidade. Achava-me perplexo, sem saber o que estava acontecendo. Depois disso, inúmeras figuras vivas dessas cores radiantes foram vistas movendo-se silenciosamente no interior. Elas comunicavam-se umas com as outras através de muitos gestos e sinais. Em seguida, essas formas saíram das células e fundiram-se na luz que inundava a sala. Nesse momento, eu não podia ver nada dentro de mim, exceto aquela luz dourada. E do lado de fora, vi um majestoso, fascinante, glorioso e gigantesco Virat Purusha dourado. Como escrever qualquer coisa a respeito daquele maravilhoso Virat Purusha? Sobre sua fronte havia um refulgente sol dourado, o qual, embora flamejante, irradiava simultaneamente paz e frescor. Para onde quer que aquele Virat Purusha dirigisse o olhar, ele espalhava raios de luz dourada.
A cena então mudou. E esse Virat Purusha trazia em si muitos sóis. Ele continha inumeráveis sóis em seu extraordinário corpo. Na verdade, pode-se dizer que ele era composto unicamente de sóis! Que visão extática! É indescritível. O esplendoroso olhar do Virat Purusha vibrava de amor, graça, compaixão e ternura. Tudo isso é inexplicável. Então, a gigantesca mão desse Deus dos deuses (devadideva) acariciou-me todo o corpo. Instantaneamente, depois dessa carícia, tornei-me incorpóreo. Eu sentia, no entanto, que alguém estava a mover-me por toda a parte na imensidão daquele espaço. O sonoro canto:
"Om, conduze-me da morte à imortalidade",
foi ouvido. Ele era repetido de várias formas. Em seguida, uma luz multicolorida foi vista envolvendo toda a área desse imenso lugar. Finalmente, por toda aquela vasta extensão, via-se tão somente a luz dourada. De forma simultânea, ouvia-se o melodioso, poderoso e ressoante repicar dos sinos da vitória. Eu estava absolutamente fascinado.
Refleti: "O que foi tudo isto? De onde e para onde eu vim?" Tomado de gratidão, o meu corpo prosternou-se em Sashtang Pranam (a obediência de todo o corpo). Eu simplesmente não queria erguer-me dessa postura de pranam. Tive de forçar-me a levantar. Mas a mente se perdera na experiência pela qual passara e em sua vívida lembrança. Passei quase a noite toda nesse estado.