PRECES E MEDITAÇÕES

7 de outubro de 1913

Esta volta, depois de uma ausência de três meses, à casa a Ti consagrada, Senhor, foi a ocasião de duas experiências. A primeira é que, dentro de meu ser exterior, minha consciência superficial, não tenho mais absolutamente a impressão de estar em minha casa e de ser a proprietária do que quer que seja; sou uma estrangeira em uma terra estrangeira, bem mais estrangeira do que em pleno campo no meio das árvores; e sorrio, agora que aprendi o que ignorava, sorrio ao pensar na impressão de “dona de casa” que tinha antes de viajar; foi necessário derrubar todo o orgulho, esmagá-lo, pisoteá-lo definitivamente para que, finalmente, eu seja capaz de compreender, de ver e de sentir as coisas tais como são. Eu Te oferecia esta moradia, Senhor, como se fosse possível eu possuir alguma coisa e, conseqüentemente, pudesse oferecê-la a Ti. Tudo é Teu, Senhor, és Tu que colocas todas as coisas à nossa disposição; mas, qual não é nossa cegueira ao imaginarmos poder ser os proprietários de alguma coisa! Estou de visita aqui, como em outra parte, como em todo lugar, Teu mensageiro e Teu servidor na terra, uma estrangeira no meio dos homens, e no entanto a própria alma da vida deles, o amor do coração deles…

Em segundo lugar, toda a atmosfera da casa está impregnada de uma gravidade religiosa; atinge-se imediatramente as profundezas; as meditações são mais recolhidas e mais sérias: a dispersão desaparece para deixar lugar à concentração; e esta concentração, eu a sinto literalmente descer de minha cabeça para entrar em meu coração; e o coração parece-me atingir uma profundeza maior do que minha cabeça. É como se, três meses atrás, eu amasse com minha cabeça, e agora começo a amar com meu coração; e isto comporta uma gravidade e uma suavidade de sentimentos incomparáveis.

Uma nova porta abriu-se em meu ser e uma imensidão apareceu para mim.

Eu transponho o limiar com devoção, não me sentindo ainda muito digna de empenhar-me nessa estrada escondida, velada ao olhar e como que luminosa por dentro, de uma maneira invisível.

Tudo mudou, tudo é novo; a roupa velha caiu e o recém-nascido entreabre os olhos à aurora que reluz.


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